Confiar e Enxergar o Outro - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

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16/03/2017 - 00:15

Leituras: Jr. 17, 5-10 / Sl: 1 /Evangelho: Lc 16, 19-31

Experimentamos neste período o tempo litúrgico da quaresma. Ocasião especial de convite e chamado à conversão. Ambiente de preparação para celebrar o mistério central da fé Cristã, a paixão morte e ressurreição de Jesus. Trata-se de um momento de revisitar e analisar nossas ações, atos e atitudes mensurando-as pelo compasso do compromisso com a vivência diária dos valores do evangelho.

Nesse sentido, a liturgia desta quinta-feira da segunda semana Quaresmal exorta a humanidade a depositar sua confiança no Senhor. Confiança entendida como a capacidade  de  não se desesperar diante da dor e do sofrimento bem como  pela disposição de  não  deixar que nenhum tipo de  riqueza nos turve a razão e o coração  diante dos que sofrem.

Na primeira leitura, extraída do Livro do Profeta Jeremias, escuta-se um forte e insistente apelo à confiança no Senhor. Pela via negativa, argumenta o profeta,  que aquele que não confia em Deus, e põe sua esperança na “carne humana” (v.5) é como uma árvore que se coloca no ermo, no pântano e numa região desabitada (v.6). Uma planta com uma vida restrita a lugares sombrios e difíceis. De outro lado, aquele que confia em Deus, é como uma árvore plantada à beira do rio, que busca a umidade (v.8-9), seiva para vida. Ela enfrenta as intempéries cotidianas e, finalmente, produz frutos em todas as estações. Portanto, o homem que confia em Deus, enfrenta as dificuldades na certeza que não perecerá, que não soçobrará face ao sofrimento. Antes, encontrará alento, pois sabe em que confiou e que Ele não o abandonará.

O Evangelho e o Salmo acentuam essa mensagem e exortam a confiar no Senhor. O salmo diz que é feliz quem não anda conforme os maus e medita noite e dia a Lei do Senhor, que cumpre seus mandamentos. Bem diferente da sorte dos malvados e perversos. No Evangelho, servindo-se da Parábola do Rico Opulão e do pobre Lázaro,   Lucas apresenta uma catequese de Jesus. Ambos, o opulão e o mendigo, vivem realidades opostas. Um de abundância (v.19), outro de misérias (v.20). Após a morte a situação inverte-se, o pobre passa a gozar de benesses celestiais (v.23) e o rico de sofrimentos (v.23). Um confiava na riqueza, no poder e na glória pessoal. Outro, embora o texto não diga, esperava em Deus. Somente nessa inversão de lugares o rico enxerga o pobre.

A parábola, dentre tantos ensinamentos, não apresenta a riqueza como um  caminho mais curto para o sofrimento eterno. Bem ao contrário, quer alerta que diante das poucas riquezas que  alguém  tenha adquirido ao longo da vida, ela não pode turvar a vista a ponto de não enxergarmos o outro. De não vislumbrarmos a dor e o sofrimento do irmão. De não perceber os famintos e miseráveis que se  colocam à nossa porta, pois quem  confia em Deus, tendo ou não riquezas, deve necessariamente ser capaz de enxergar os frágeis, indefesos e crucificados da história.

As leituras da liturgia desta quinta-feira,  portanto, desafiam a uma confiança em Deus. Tendo claro que a confiança em Deus deve abrir-nos os olhos para a solidariedade, para a caridade e a fraternidade. Tendo ou não propriedade, devemos confiar em Deus e enxergar o próximo.