Comunhão com Cristo e serviço à humanidade - Pe. Reuberson Ferreira, mSC

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13/04/2017 - 00:15

Leituras: Ex 12 1-8. 11-14 14; Sl:115; Segunda Leitura: 2Cor 11, 23-26; Evangelho: Jo 13, 1 - 15

Após longa caminhada quaresmal, vivida piedosamente e com o desejo de mudança interior, adentramos na celebração do mistério central da nossa fé: a paixão, morte e ressurreição de nosso senhor Jesus Cristo. Iniciamos vigilantes e alegres o Tríduo Pascal. Deslumbramos com nossos olhos, tocamos com nossas próprias mãos, e sentimos em nosso próprio coração a atualização deste mistério na liturgia. Embevecidos, contemplamos, nesta celebração, Cristo que se faz pão (Eucaristia) e entrega-se ao serviço dos irmãos (lava-pés).

A liturgia desta quinta-feira, da ceia do Senhor, orbita em torno de dois centros. Primeiro, a Eucaristia, verdadeira comida, pão dos anjos, remédio para os sofredores. Símbolo irrefragável da comensalidade, do banquete celeste e da generosidade de Deus. Segundo, o lava-pés, gesto peculiar de Cristo, paradigma inconteste de um Senhor-servo que convida a comunidade dos crentes, por primeiro, a ser servidora da humanidade.

Na primeira leitura, retirada do livro do Êxodo, é narrada a páscoa judaica. Trata-se de uma memória que se faz liturgia. A páscoa é a memória histórica da libertação dos judeus do Egito. Trata-se de um novo tempo (v.2) que começa com um novo dia (v.2). Com ele, o povo liberto é chamado a celebrar Deus que atua em sua história. Eles são exortados à mesa do Cordeiro, da comensalidade. Nela já não há mais desperdício nem acúmulo: há partilha (v.4.6). O Sangue do cordeiro, que unta as portas (v.13), é sinal de um Deus que não inflige castigo aos seus, mas protege-os. As ervas amargas recordam os sofrimentos vividos no deserto (v.7.12.13). Os pães ázimos, sem fermento, rememoram a prontidão com que os judeus tiveram que se preparar para o dia da sua libertação (v.11). Esta leitura, portanto, exorta-nos a celebrar a história da ação de Deus no meio da humanidade. Ação essa que encontra pleno e definitivo sentido para os cristãos na passagem (páscoa) de Jesus Cristo.

A segunda leitura, escrita por Paulo aos coríntios, insiste na meditação sobre a celebração da páscoa, desta vez aquela celebrada sob a memória de Jesus Cristo. Paulo transmite aos seus irmãos aquilo que recebeu sobre a Eucaristia (v.23). A Eucaristia é o corpo e sangue de Cristo, verdadeira comida e verdadeira bebida sob a forma de pão. Ao celebrá-la, anuncia-se a memória da Morte e ressureição de Jesus até que ele volte (v.25). Tomar parte da Eucaristia, portanto, é fazer memória da vida, dos gestos e da ação de Cristo em favor da humanidade. Trata-se de um compromisso dos que tomam parte do corpo de Jesus - que não é prêmio para os justo, mas sim remédio para os pecadores - de viverem sob a égide do ensinamento do próprio Cordeiro de Deus imolado.

No Evangelho, narrado por João, encontramos a síntese entre a comunhão com Cristo e o serviço à humanidade. Trata-se, mais uma vez, de um ambiente pascal (v.1). Ao reclinar o dia, Jesus Cristo, ciente de sua missão redentora e da traição de Judas, toma a ceia com seus discípulos (v.2). Após partir o pão, ele depõe de sua túnica, toma uma toalha e lava os pés dos discípulos. Este lavar os pés é símbolo do serviço de Cristo à humanidade, mas também é sinal de sua vida que se doa, de sua morte pela humanidade e de sua entrega aos seus nas mais simples situações da vida. A recusa de Pedro de ter seus pés lavados e a contra resposta de Cristo, indicam-nos que a participação no ministério de Cristo expressa-se, necessariamente, pelo deixar-se embeber pelas ações de Jesus. Somos, pois, convocados a tomar parte do seu exemplo, a exercer nossa profissão de fé no serviço concreto e diário à humanidade. Ele mesmo nos deixou o exemplo, e só teremos parte com ele se o fizermos como ele fez (v.9). Portanto, a ceia Pascal, descrita por João, é a simbiose entre culto e vida, oração e práxis.

A liturgia desta Quinta-feira Santa, portanto, apresenta-nos de uma maneira clara o sentido do mistério que celebramos. Ela é a abertura do Tríduo Pascal. Ensina-nos que celebramos o culto a Deus que adentrou na nossa história e libertou-nos da dor, da opressão e do sofrimento. Ela é atualização do Sacrifício de Jesus que se encarnou na humanidade. De igual modo, a Eucaristia é o símbolo máximo da convergência entre culto a Deus e disposição para servir a humanidade. Amém!