Compromisso com a Vida - Raul de Amorim

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10/03/2017 - 00:15

Mt.5,20-26

As Escrituras foram doadas a Israel para ensinar o caminho da justiça. Os seguidores de Jesus não podem ignorar essa riqueza, mas devem interpretá-las de forma generosa e profunda para captar o que elas têm a dizer para além da superfície.

Mt. 5,20: Porque eu lhes digo: Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores da Lei e os fariseus, vocês não entrarão no Reino dos Céus.

O ideal religioso dos judeus da época era “ser justo diante de Deus”. Os fariseus ensinavam: “A pessoa alcança justiça diante de Deus quando chega a observar todas as normas em todos os seus detalhes!” Este ensinamento gerava uma opressão legalista e trazia muita angústia para as pessoas, pois era muito difícil alguém observar todas as normas. Paulo na carta aos Gálatas diz: “Mas, agora que veio a fé, já não estamos sob a lei”. (Gl. 3,25)

Mt. 5,21-22: “Vocês ouviram o que foi dito aos antepassados: Não mate. Quem matar terá de responder no tribunal. Mas eu lhes digo: Todo aquele que ficar com raiva de seu irmão, terá que responder no tribunal. Quem chamar seu irmão de imbecil, será submetido ao Supremo Tribunal. Quem o chamar de idiota, terá que responder no fogo do inferno.

Para observar plenamente este quinto mandamento não basta evitar o assassinato. É necessário arrancar de dentro de si tudo aquilo que possa levar a praticar esse delito, como por exemplo, raiva, ódio, xingamentos, desejo de vingança, exploração... É fundamental captar o sentido mais profundo da Lei. O preceito “não matar” exprime compromisso radical com a vida e não apenas no plano físico.

Muita gente costuma dizer: “Não roubei, não matei... Estou de bem com Deus” Essa frase não cola com os conselhos que Jesus nos dá!

Mt.5,23-24: Se você estiver levando sua oferenda ao altar, e aí lembrar que seu irmão tem alguma coisa contra você , deixe sua oferta, aí diante do altar e vá primeiro reconciliar-se  com seu irmão.

Para ser aceito por Deus e estar unido a Ele, é preciso estar reconciliado com o irmão, com a irmã. Este é o verdadeiro culto que Deus quer. Antes da destruição do Templo, no ano 70, quando os judeus cristãos participavam de romarias a Jerusalém para fazer suas ofertas e pagar suas promessas, certamente eles sempre se lembravam desta frase de Jesus.

Nos anos 80, no momento em que Mateus escreve, o Templo e o Altar já não existem. Tinham sido destruídos pelos romanos. A própria comunidade e a celebração comunitária passam a ser o Templo e o Altar de Deus.

Lembremos o recado de Jesus: “Mas se vocês não perdoarem as pessoas seu Pai também não perdoará as faltas de vocês”. (Mt.6,15)

Mt.5,25: Entre logo em acordo com o seu adversário, enquanto você está a caminho com ele. Senão, ele entregará você ao juiz, e o juiz o entregará ao guarda, e você será jogado na cadeia.

Um dos pontos em que o evangelho de Mateus mais insiste é a reconciliação. Isto mostra que, nas comunidades daquela época, havia muitas tensões entre os grupos. Ninguém queria ceder diante do outro. Infelizmente ainda temos muitos problemas em nossos dias.

Mt.5,26: Eu lhe garanto: Daí você não sairá, enquanto não pagar até o ultimo centavo.

O evangelho quer nos orientar para compromisso de buscar a reconciliação sempre, mesmo quando a ofensa veio do outro lado: a fraternidade vem antes, e dará significado particular a oferta que a gente oferece no altar.