Banquete da Morte - Raul de Amorim

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03/02/2017 - 00:15

Mc. 6,14-29

Na leitura de hoje vamos ver como João Batista foi vítima da prepotência do governo de Herodes. Foi morto sem processo, durante um banquete de Herodes com os poderosos. O texto traz informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era exercido o poder pelas autoridades da época.

Mc. 6,14-16: O rei Herodes ficou sabendo dessas coisas, porque a fama de Jesus se espalhava. Diziam: “João Batista foi ressuscitado dos mortos e por isso os poderes agem através dele”. Mas outros diziam: “É Elias.” E outros ainda: “É um profeta como os outros profetas” Ouvindo essas coisas Herodes disse: “João de quem eu mandei cortar a cabeça, ressuscitou!”

O texto começa com um balanço das opiniões do povo e de Herodes sobre Jesus. As pessoas procuravam compreender Jesus a partir das coisas que elas mesmas conheciam, acreditavam e esperavam. Tentavam enquadrá-lo dentro dos critérios familiares do Antigo Testamento, com suas profecias e esperanças. Mas eram critérios insuficientes. Jesus não cabia lá dentro. Ele era maior! Quem é Jesus? É a pergunta que o evangelista faz às comunidades de ontem e de hoje. O Herodes citado é o Herodes Antipas que aparece na morte de Jesus. (Lc.23,7)

Mc. 6,17-20: De fato Herodes tinha mandado prender João e acorrentá-lo na prisão por causa de Herodíades, esposa de seu irmão Filipe, com a qual Herodes se casara. É que João dizia a Herodes: “Não lhe é permitido ter a mulher de seu irmão”. Então Herodíades odiava João e queria matá-lo, mas não conseguia porque Herodes tinha medo de João e o protegia.

Herodes, o poderoso que pensava ser o dono da vida e da morte, era um grande supersticioso com medo de João Batista. A preocupação dele era sua própria promoção e segurança. Flavio Josefo, um escritor daquela época, dizia que o motivo da prisão de João Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. A denúncia de João contra ele foi a gota que fez transbordar o copo, e João foi preso.

Muitas vezes agimos de forma parecida. Só gostamos de escutar o que nos agrada. Os ensinamentos de Jesus tocam o nosso coração até o momento que se parece com os nossos pensamentos. Quando a Palavra nos provoca a uma mudança de atitudes deixamos de lado.

Mc. 6,21-22: “Chegou, porém um dia oportuno, quando Herodes, por ocasião de seu aniversário, ofereceu um banquete aos seus magnatas, aos oficiais da corte e às grandes personalidades da Galiléia. E a filha de Herodíades entrou, dançou e agradou a Herodes e aos seus convidados. Então o rei disse à menina: “Peça-me o que você quiser e eu lhe darei”.

Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Era o ambiente em que costuravam as alianças. Hoje em dia não é muito diferente! Uma grande oportunidade para Herodíades se vingar de João Batista. Uma festa em que uma jovem e sua mãe estão a serviço da morte.

Mc. 6, 23-25: E Jurou: Qualquer coisa que você me pedir, eu lhe darei, ainda que seja metade do meu reino”. Ela saiu e perguntou a mãe: “O que vou pedir?”Ela Respondeu: “A cabeça de João Batista”. Entrando logo, com pressa, na presença do rei, ela pediu: “Quero que me dê agora mesmo num prato, a cabeça de João Batista”.

Herodes era um traidor. Quem mandava de verdade na Palestina desde 63 antes de Cristo, era o Império Romano. Herodes para não ser deposto, procurava agradar Roma em tudo, insistia, sobretudo numa administração que desse lucro ao Império. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si!

No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a uma jovem dançarina. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento. Um bajulador corrupto diante da dançarina.

Mc. 6,26-29: O rei ficou muito triste, mas por causa do juramento que tinha feito e dos convidados, não quis deixar de atendê-la. Imediatamente o rei mandou um executor, com ordens de trazer a cabeça de João...

A cabeça de João Batista é oferecida, num prato, para compor a mesa de Herodes e seus convidados, os grandes da Galiléia. Para Herodes a vida do povo não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras do salão. A eliminação de João é motivada pelos questionamentos trazidos por sua palavra e atitudes, e antecipa o destino de Jesus.

Enquanto muitos fazem banquetes que geram morte, Jesus nos oferece o banquete da vida: “Felizes os convidados para a ceia do Senhor”.