Acolher o Ressuscitado e Seu Projeto -

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11/05/2017 - 00:15

Leituras: At 13, 13-25 - 28; Sl: 88; Evangelho: Jo 13, 16-20

O tempo pascal, que agora vivemos, conduz-nos progressivamente pelo mistério da ressurreição. Ele nos apresenta a certeza de que Jesus, a ovelha levada ao matadouro, aquele a quem não se é digno de desamarrar as sandálias, é o ressuscitado, que não morre mais. Ele venceu a morte, garantiu-nos a vida eterna (Jo 6 ,51b). Seu sacrifício redentor, por isso, renova a confiança daqueles que crêem numa vida que se transforma e desafia-nos a produzir frutos coerentes com a fé professada.

Nesse sentido, a alegria pascal desta liturgia da quinta-feira da quarta semana da páscoa, exorta-nos a contemplar a ação de Deus na história da humanidade. A compreender que Deus sempre agiu em favor do seu povo e que a doação de Jesus foi o seu maior e mais afirmativo ato de amor. Por isso, quem acolhe aqueles que Cristo envia, acolhe a Ele (Seu projeto), consequentemente o próprio Deus.

A primeira leitura, extraída do livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta os primeiros passos missionários de Paulo. Ele, juntamente com Barnabé, está numa sinagoga na Antioquia da Psídia (v.14), num ato litúrgico (v.15). Ante o povo, crente em Deus e esperançoso da vinda do messias, Paulo revisita a história do povo de Israel (v.17-23) lendo-a à luz da ressureição de Jesus e concluindo que ele é o Salvador prometido (v.23), enviado pelo Senhor (v.23.v31), rejeitado pelos chefes do povo (v.27) e ressuscitado por Deus (v30). Embora não faça parte do texto lido nesta litúrgia, Paulo, na continuidade de seu discurso, afirma que os discípulos são as testemunhas diretas desses fatos e por isso ele as anuncia e exorta todos a crerem. Depreendem-se do texto dois fatos. Primeiro, a leitura que Paulo faz da história é paradigma para os homens de ontem, de hoje lerem a própria história, isto é, aos olhos da fé no ressuscitado. Segundo, o testemunho eloquente e apaixonado do Apóstolo dos Gentios é divisa e modelo de um ardor missionário que deve consumir cada homem e mulher seguidor de Jesus, na certeza de que quem acolhe os enviados de Cristo, acolhe seu projeto.

O Salmo e o Evangelho aprofundam, à sua maneira, a leitura da história e dimensão missionária da fé. O Salmo retoma a figura de Davi (Cristo é da descendência de Davi) e a promessa que Deus fizera de sempre estar ao lado do Seu servo, garantindo Seu amor ao povo por todas as gerações, inclusive a nossa. O Evangelho, por seu turno, escrito por João, apresenta-nos Jesus como modelo de serviço e de missão. Nesse texto, após o simbólico gesto de lavar os pés dos discípulos, Cristo convida aqueles que o seguem a tomarem parte do seu exemplo, a exercerem sua profissão de fé no serviço concreto à humanidade. Esse serviço será critério de felicidade e fidelidade (v.17). Ele faz parte do projeto salvador de Cristo Ressuscitado, quem não tomar parte dessa condição assemelha-se a um traidor (v.18-19). Assim, compreende-se que a missão do Ressuscitado e dos seus seguidores comporta uma parcela concreta de serviço aos frágeis a quem Deus tanto ama.

As leituras da liturgia desta quinta-feira, portanto, apresentam-nos que a ressurreição de Jesus é chave de leitura da história do povo de Deus – ontem e hoje. Ela é critério para compreensão (e transformação) da realidade. De igual modo, a atitude de Jesus – lavar os pés – é modelo para aqueles que crêem na ressureição, critério do autêntico caminho do seguimento de Cristo Jesus.