São Jorge, entre a fé e a bola

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Dom Luiz Carlos Dias presidiu a missa solene, campal, celebrada na frente da capela, que reuniu quase 800 pessoas
Publicado em: 25/04/2017 - 10:00
Créditos: Texto e fotos: Peterson Prates

O amor ao time do coração e o afeto ao santo de devoção levaram centenas de fieis e torcedores a celebrarem a 22ª festa de São Jorge, promovida pelo Sport Club Corinthians Paulista, na memória litúrgica do santo, em 23 de abril, no clube que leva o nome do padroeiro.

A festa, bem mais nova que a devoção da comunidade local ao santo, teve início com uma procissão na manhã do domingo. A caminhada teve como ponto de concentração a Praça São José do Maranhão e percorreu as ruas do Tatuapé até o Parque São Jorge, sede do clube paulista, onde há a pequena capela do santo guerreiro.

Dom Luiz Carlos Dias, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo para a Região Episcopal Belém, presidiu a missa solene, campal, celebrada na frente da capela, em que reuniram-se quase 800 pessoas, segundo a organização. Pe. Jeferson Mengali, autor do livro “São Jorge – O Poder do Santo Guerreiro”, concelebrou a Eucaristia. Também participaram os capelães, Diáconos Permanentes, Jorge Luiz Sousa e Wainer Fracaro da Silva.

“Vamos nesta Eucaristia também agradecer e louvar a Deus por esse belíssimo clube, um dos maiores do mundo”, disse dom Luiz no início da celebração. Na homilia, o bispo  reforçou a importância de  superar o medo, vencendo os conflitos, e apostando em relações sociais sadias.

“Um Clube como este simboliza bem o que é o projeto de Deus. Onde as pessoas se reúnem, na alegria, para o congraçamento da vida, para celebrar a vida. Algo maravilhoso, precisa ser cultivado com carinho”, expressou Dom Luiz, que semanalmente joga na associação. “Rezemos pela diretoria para que saibam administrar bem um clube como este, para que o leve a cumprir cada vez mais sua missão, isso é muito importante para a sociedade, onde as pessoas se encontram e descobrem que são todos irmãos e irmãs”, finalizou.

Santo

Segundo a tradição cristã, São Jorge nasceu na região da Capadócia, atual Turquia, depois mudou-se para Palestina, onde foi capitão do exército Romano. Jorge se negou a professar a fé pagã do império, e por isso foi torturado e morto, professando a fé em Jesus Cristo.

“São Jorge é padroeiro do Clube, mas não é só um fato importante pro Corinthians, é um fato importante para a Igreja. São Jorge é um mártir cristão que deu sua vida pela causa do Cristo, e que é venerado tanto na Igreja Católica Romana, como na Ortodoxa”, lembrou Pe. Jefferson.


Pe. Jeferson, devoto de São Jorge e torcedor do time desde pequeno, recorda também o papel de dom Paulo Evaristo Arns, fervoroso corintiano, na permanência do santo no Cânone Ordinário dos Santos. Um dos argumentos apresentados por dom Paulo a Paulo VI, papa da época que propunha a Reforma no Calendário Litúrgico, foi  a devoção a São Jorge, cultivada pelos corintianos.

Corinthians

“São Jorge foi adotado pela nação corintiana de uma maneira muito grande. A história de São Jorge nasceu aqui na nossa biquinha de S. Jorge, onde quem bebe água fora corintiano”, conta Fernanda Pagani, produtora de eventos do clube, sobre como o santo de tornou padroeiro do time.

Além da bica d’água, a rua da sede e o clube recebem o nome do padroeiro. Os imigrantes sírios e libaneses que habitavam o bairro do Tatuapé cultivavam a devoção a São Jorge. Com a instalação do clube na região, os torcedores acabaram por adotar o santo como padroeiro, que já dava nome à rua. Ainda hoje há no Tatuapé uma capela ortodoxa dedicada ao santo, no Lar Sírio, de 1937. Já a Capela no Corinthians completa, em 2017, 50 anos de fundação. Em 1994, o então Cardeal, Dom Paulo Evaristo Arns, consagrou a igrejinha.

“Amor antigo"

Zeni Sabbag, sócia do time há quase 60 anos, moradora do Tatuapé desde sempre e filha de ex-diretor do clube, diz que nasceu corintiana, e que a fé em São Jorge “é inquebrantável” e a relação com o time é “um amor antigo”.

“São Jorge é o padroeiro do Corinthians, que é um time que a gente ama de paixão. Eu tenho 81 anos e frequento há mais de 50 anos [o Parque São Jorge]”. Zeni revela que coloca o Corinthians em suas orações, e que o santo nunca deixou de interceder pelo time.


Pastoral

A Arquidiocese de São Paulo mantém um trabalho pastoral na Capela do clube por meio do serviço de capelania, desempenhados pelos diáconos Jorge e Wainer. Todos os sábados há batizados de crianças. Além das preparações de pais e padrinhos e batizados, há também celebrações de bodas matrimoniais.


Após a benção final, os presentes já torciam para o resultado da disputa contra o São Paulo, naquela tarde, e cantaram o hino do time, sob gritos de “Vai Corinthians!”.

Festa de São Jorge