“Valeu a pena tudo isso. Valeu ou não valeu?”, indagou Cônego José Miguel, vigário geral para a Região Belém, às religiosas do Santo Rosário, na celebração dos 50 anos de presença missionária no Brasil. E recebeu resposta positiva das irmãs que disseram “valeu”, e que começariam tudo de novo, se necessário fosse. A celebração que marcou as cinco décadas da congregação no Brasil, aconteceu no Centro Pastoral São José.
A Congregação das Missionárias do Santo Rosário veio ao Brasil depois de um chamado de Paulo VI, após o término do Concílio Vaticano II. Em 1966, três irmãs irlandesas desembargaram no Brasil para o trabalho missionário em São Paulo.
Ao longo dos anos, outras missionárias chegaram para o trabalho junto ao povo, principalmente dos marginalizados e excluídos. A missão se estendeu em outras dioceses do Brasil, como Volta Redonda e Registro.
Ann Griffin, conhecida no Brasil por Ir. Ana, agradeceu antes do início da celebração de ação de graças, a todos que partilharam da “história, memória e caminhada” das missionárias. “A vocês que nos ajudaram a viver nossa vocação missionária”.
A celebração de ação de graças foi presidida pelo vigário geral da Região Belém, e concelebrada por religiosos combonianos e espiritanos. Participaram também outros religiosos e religiosas, leigos de outras dioceses e paróquias por onde as missionárias trabalharam e, ainda, a vice-consulesa da Irlanda no Brasil, Ciara Gilvarry.
Cônego Miguel iniciou a celebração lembrando que havia pessoas da Europa, África, América do Norte e América do Sul no aniversário de missão da congregação. Recordou os últimos versículos do Evangelho de Mateus que diz: “Ide por todo o mundo, batizando todos os povos, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, fazendo-os meus discípulos e estarei convosco enquanto existir a história humana”. Hoje, a comunidade religiosa conta com doze irmãs no Brasil, entre irlandesas, americanas e nigerianas.
Ainda na homilia, Cônego Miguel disse que “é o espírito do ressuscitado que nos sustenta na caminhada”. Agradeceu a Deus pela vida das missionárias e disse: “que vocês tenham saúde, paz e coragem para continuar essa missão”.
As missionárias do Santo Rosário desempenharam e continuam realizando diversos trabalhos em São Paulo e em outros estados do Brasil: Pastoral Carcerária, Pastoral da Criança, atendimento as mulheres marginalizadas, junto ao povo de rua, acompanhando as comunidades eclesiais de base, medicina alternativa, juventude e outros muitos trabalhos pastorais.
Ir. Holly Chenery, que chegou ao Brasil em 1974, foi realizar sua missão na zona leste. Nas fábricas conheceu o mundo operário e participou da formação de grupos de organização da classe trabalhadora, junto à Pastoral Operária, em plena ditadura militar.
Para Ir. Mary Ryan, que chegou da Irlanda em 1967 para trabalhar no Norte do Brasil e que, há 21 anos, mora em Sapopemba, o acolhimento do povo foi o que mais marcou em toda a caminhada missionária. Ela disse que a experiência desses quase 49 anos de missão no Brasil “foi maravilhosa, porque viu com outra mentalidade a realidade”. Ir. Mary, que também é enfermeira, destaca os trabalhos que realizou na Pastoral da Saúde, da Criança e tantas outras. Hoje trabalha com a visita aos encarcerados e aos doentes.
Ir. Patrícia Dervan, uma das três religiosas irlandesas que chegaram ao Brasil em 1966, enviou uma carta ao Brasil, por ocasião dos 50 anos da congregação no país, e foi lida ao fim da celebração, por uma das irmãs. Na carta assinada no dia 8 de abril, Ir. Patrícia relembrou fatos de sua missão no Brasil de 1966 a 1987, e disse “nunca esquecerei o que aprendi na jornada, compartilhada com o povo organizado”. Continuou citando pontos significativos, lembrando a “conscientização do povo, através da pedagogia do oprimido de Paulo Freire. Mutirão, luta, CEB’s, movimentos populares e direitos humanos, como ação transformadora da sociedade, principalmente na época de repressão militar”.
Ainda na carta, Ir. Patrícia lembrou a “fé, convivência e engajamento nas comunidades de base”, destacou a presença de Nossa Senhora Aparecida, “protetora e companheira de vida, principalmente no sofrimento dos oprimidos”.
“Sinal vivo do Concílio Vaticano II agindo concretamente na realidade de povo de Deus”, foi o que disse Pe. Valdir João Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária, sobre a vida das missionárias do Santo Rosário. “Temos agora o papa Francisco que pede que a Igreja vá para as periferias existenciais, vocês já responderam isso há 50 anos”, completou Pe. Valdir.
Após a celebração, houve, também, no Centro Pastoral, uma festa para comemorar o meio século da congregação religiosa no Brasil.