Comunidade na favela da Vila Prudente celebra Consciência Negra

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Membros da Comunidade São José Operário, na Vila Prudente, celebram a festa dos quilombos
Publicado em: 24/11/2017 - 12:45
Créditos: Redação

Peterson Prates​

No Dia da Consciência Negra, na segunda-feira, 20, a Comunidade São José Operário, na favela da Vila Prudente, zona Leste de São Paulo, celebrou uma missa, presidida pelo Padre Assis Tavares, Missionário Espiritano, natural de Cabo Verde.

No comentário inicial da celebração, foi lido o manifesto escrito por Dom Pedro Casaldáliga, Bispo Emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia (MT), para a apresentação da obra “Missa dos Quilombos”, composta em parceria com Milton Nascimento e Pedro Tierra, e que foi celebrada em Recife, em 1981, com a participação de Dom Helder Câmara, Dom José Maria Pires e o próprio Dom Pedro, na praça onde foi exposta a cabeça de Zumbi dos Palmares, líder da resistência negra no período colonial.

 “É grandioso para a comunidade essa terceira festa dos quilombos, uma celebração onde a gente nota muito o respeito entre os povos” disse Raquel dos Santos, moradora da favela e que faz parte da coordenação da comunidade São José Operário.

 

Procissão

Com as imagens de São Benedito e de Nossa Senhora Aparecida, a “procissão dos santos pretos” teve início em uma praça à beira da avenida Professor Luiz de Anhaia Mello e percorreu as vielas da favela. A bateria do Centro Cultural de Vila Prudente acompanhou toda a caminhada. A procissão foi uma manifestação pública da fé e também oportunidade de denúncia das situações vividas pelos negros no Brasil, que apesar de serem maioria numérica, não estão representados em espaços de decisão, ao mesmo tempo em que lotam os presídios.

 

Diálogo inter-religioso

Além da participação dos sacerdotes missionários e religiosos, a celebração contou com a presença de diversos líderes de outras denominações cristãs e tradições religiosas que compartilham da mesma causa contra o preconceito e discriminação do povo negro. Os pastores Luiz de Jesus e Fábio Bezerril Cardoso, participaram ao lado de Pai Ronaldo de Oxalá, Babalorixá Akajaprikun, do Ylê Asé Orun Aye – Templo Cacique Pena Branca, e Iyalorisá Marisa de Oya.

 

Presença africana

A presença africana na celebração foi significativa, com religiosos vindos de diversos países do continente africano que moram em São Paulo. Pelo menos seis países estavam representados: Quênia, Uganda, Moçambique, Chade, Tanzânia, Senegal e Cabo Verde.

Para Irmã Isabelle Djenoyom, natural do Chade e religiosa da Congregação das Irmãzinhas do Imaculado Coração – Santa Paulina, “é muito bom uma missa assim para conscientizar o povo negro brasileiro para ter uma convivência boa, uma aceitação e justiça”. 

 

Participação de movimentos e pastorais

A missa contou, ainda, com a participação de diversos movimentos eclesiais e sociais, como a Pastoral Carcerária da Arquidiocese de São Paulo, Associação de Amigos e Familiares de Presos (AMPARAR), Movimento de Defesa do Favelado (MDF), Pastoral da Juventude, Centro Cultural de Vila Prudente, lideranças de Comunidades Eclesiais de Base da Região Belém, Conselho de Leigos da Região Belém, Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Freguesia de Penha de França, Pastoral Afro e visitantes de outras dioceses.

A Irmã Marialda Cardoso participa do projeto inter-congregacional da favela e notou que “esse ano teve um envolvimento muito maior da comunidade, que está percebendo e valorizando esse momento de estar celebrando essa luta, sinal de resistência”. Ela lembrou que houve participação das cinco favelas que formam a Área Pastoral São José Operário. “Oportunidade para catequese e orientação para rezar juntos”, concluiu.

 

Pela região

Outras comunidades da Região Belém celebraram momentos por ocasião do Dia da Consciência Negra. Em São Mateus, a Comunidade Santa Maria, da Paróquia São Paulo Apóstolo, realizou a “celebração afro”. No setor Conquista, na Comunidade São Judas Tadeu, da Paróquia Imaculado Coração de Maria, também aconteceu “missa afro”. Em Sapopemba, a celebração inculturada acontece no domingo, 26, na Comunidade Nossa Senhora da Paz, às 9h30.