Para onde tudo se encaminha

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23/11/2016 - 09:00

Com a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, a Igreja chega ao final do ano litúrgico, durante o qual ela recorda e celebra os grandes “mistérios” da salvação, cujo centro é o “mistério pascal” de paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Deus caminha com a humanidade e vai se revelando um Deus-Salvador misericordioso, que deseja a vida para todas as suas criaturas e, de maneira toda especial, atrai o homem para ser parceiro e colaborador responsável na sua obra; mas também lhe promete a felicidade plena e a participação na vida do seu reino.

Na festa de Cristo Rei, a Igreja nos lembra que Deus é o Senhor, que a tudo governa e sustenta com sua providência amorosa; e que Jesus Cristo, Filho de Deus, foi enviado a este mundo para “restaurar” todas as coisas atingidas pelo pecado e a morte, para terem parte no reino de seu Pai: reino de vida e verdade; reino de santidade e de graça; reino de justiça, de amor e de paz. Deus quer que o homem também reine com ele, participando do seu “projeto” de salvação para este mundo.

É uma pena que o homem, muitas vezes, queira reinar sem Deus ou até usar Deus para se impor sobre os outros. O resultado disso, porém, é a desordem no convívio humano, a violência, a destruição, a morte, a infelicidade. O reino de Deus é o verdadeiro bem para o homem e o mundo; não há que ter medo diante do reino de Deus, cuja chegada Jesus Cristo anunciou como “boa notícia” para o mundo: “o reino de Deus chegou, acolham essa boa notícia!”.

Ao passar do fim do ano litúrgico para o começo de um novo ano, a Igreja nos coloca diante do grande horizonte da nossa vida e da história. No dia a dia das nossas ações, cada vez mais intensas, somos tentados a olhar só para o imediato presente, que Jesus denomina como “as preocupações da vida”. Tendemos a esquecer as questões fundamentais: de onde venho, para aonde vou, o que faço aqui, que sentido tem aquilo que faço e minha própria vida?

E a palavra da Igreja, aprendida da Palavra de Deus, nos recorda: Deus é Senhor, não nós; somos criaturas, atraídas por Ele, para participarmos de sua vida; não damos a nós mesmos a vida neste mundo, que é uma graça; nascemos e vivemos para fazer o bem, e não o mal! Um dia, deixaremos a vida neste mundo e daremos contas a Deus de tudo o que fizemos; e receberemos em prêmio a vida eterna, pela nossa fé e união com Ele e pelo bem que tivermos praticado.

Terminando um ano litúrgico e iniciando um outro, a Igreja nos recorda as “realidades últimas” ou “novíssimos”, que são parte da nossa fé; o julgamento de Deus, o prêmio, o castigo, a vida eterna, céu, inferno, como prêmio ou castigo. Não deve ninguém se assustar em pensar nessas realidades; mas a lembrança de que elas existem e que deveremos responder a Deus pela nossa vida já nos ajuda a viver de maneira prudente e sóbria nossos dias neste mundo.

Olhando para Cristo Rei, teremos a nossa vida sempre orientada para a grande meta de nossa existência: acolher o reino de Deus e viver conforme a lei desse reino: a lei do amor e da caridade. O primeiro domingo do Advento, no início do novo ano litúrgico, nos convida a caminhar na esperança: “deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). E isso ajudará a “transformar espadas de guerra em foices para a colheita” (cf. Is 2,4), de maneira que se possa vencer toda violência e toda forma de opressão do próximo.

Ao mesmo tempo, São Paulo nos convida a caminhar de maneira honesta e sóbria, sem cair nas tentações de uma vida inconsequente e dissoluta. A vida cristã requer constante atenção e vigilância, para não se desviar do caminho que Deus traça para o homem.

O tempo do Advento, no Brasil, é marcado também pela campanha nacional para a evangelização, de responsabilidade comum pela evangelização. Se descobrimos o valor da vida cristã, não podemos deixar de propagar a nossa fé, para atrair outras pessoas a Deus.

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO edição 3129 - De 23 a 1 de dezembro de 2016