Os congressos eucarísticos celebram a globalidade da vida e da missão da Igreja

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Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, falou sobre sua participação no 17º Congresso Eucarístico Nacional 2016
Publicado em: 30/08/2016 - 17:00
Créditos: Por Fernando Geronazzo/ O SÃO PAULO
 
Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Perdro Scherer, arcebispo de São Paulo, falou sobre sua participação no 17º Congresso Eucarístico Nacional, realizado de 15 a 21 em Belém (PA). Dom Odilo explicou o significado deste evento que tem como principal objetivo testemunhar que Jesus Cristo e seu Evangelho estão no centro da vida cristã e da missão da Igreja. Confira
 

O SÃO PAULO – Por que celebrar um Congresso Eucarístico? Qual seu significado?

Dom Odilo Pedro SchererOs Congressos Eucarísticos são eventos eclesiais de grande significado. Neles, a Igreja testemunha que Jesus Cristo e seu Evangelho estão no centro da vida cristã e da missão da Igreja; a Eucaristia é o ponto mais alto da vida da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte da qual provém toda a vitalidade e fruto de sua missão. Os Congressos Eucarísticos podem ser internacionais, a cada 6 anos, e nacionais, também a cada 6 anos; além disso, podem ser celebrados Congressos diocesanos e paroquiais.
 

Quais são as principais atividades deste evento?

Nos Congressos Eucarísticos, de alguma forma, é tratada e celebrada a globalidade da vida e da missão da Igreja: o próprio mistério da Eucaristia, o Sacramento da Penitência, os ministérios ordenados, a Vida Consagrada, os leigos com suas múltiplas expressões organizadas; mas também se trata da caridade e da dimensão social da , da missionariedade da Igreja e da cultura cristã. Os casais, famílias, crianças e jovens não são esquecidos; a pregação da Palavra de Deus ocupa um lugar central e sempre um simpósio teológico, que trata de algum tema relacionado com a Eucaristia e a Liturgia.
 

Como foi para o senhor participar desta 17º edição do Congresso?

Este Congresso teve uma conotação “amazônica” bem destacada. Foi lembrado o 4º centenário de fundação da cidade de “Santa Maria de Belém do Grão-Pará” (Belém) e do início da evangelização na Amazônia. O tema do Congresso“Eucaristia e partilha na Amazônia missionária” - apontava claramente para a urgência missionária na Amazônia, que precisa ser assumida sempre melhor pela Igreja do Brasil inteiro; a celebração da Eucaristia leva a essa consequência mediante a “partilha” de bens espirituais e materiais da Igreja. A Arquidiocese de Belém organizou e preparou muito bem o Congresso e o povo fez uma acolhida calorosa aos peregrinos.
 

Os católicos que foram ao Congresso puderem aprofundar mais seu conhecimento e fé no sacramento da Eucaristia?

Houve uma boa oportunidade para isso e os diversos eventos e iniciativas oferecidos pelo Congresso foram bem aproveitados. Foi bonita a participação de crianças que, em grande número, fizeram sua primeira comunhão; de jovens, que lotaram o estádio do Mangueirão, com grande animação; houve também uma presença significativa de bispos de todo o Brasil. No sábado, 20 de agosto, foi realizada a missa no estádio e, em seguida, os sacerdotes de todas as paróquias de Belém levaram a Eucaristia para suas comunidades, significando que a Igreja, de fato, está unida em torno do mesmo Cristo Senhor e vive da mesma Eucaristia: um Senhor, uma , um Batismo, um único Pão que nos alimenta, uma esperança e a mesma missão... 
 

Os participantes também puderam conhecer melhor a realidade e a fé da Igreja na Amazônia? 

Eu diria que deu para conhecer algo do Pará e da região de Belém... A Amazônia é muito extensa e diversificada. O povo da Amazônia é mestiço, religioso e místico. Em Belém uma enorme devoção a Nossa Senhora, com os títulos principais de “Nossa Senhora da Graça”, “Mãe de Deus” e “Nossa Senhora de Nazaré”. A festa do Círio de Nazaré, a cada ano, é acompanhada por milhões de pessoas! A própria cidade de Belém também nasceu em torno de uma pequena Igreja, construída ao lado do Forte do Presépio”, junto do lugar onde hoje está situada a Catedral de Belém. uma forte presença de comunidades evangélicas pentecostais na cidade e região; a área metropolitana cresceu rapidamente e os serviços da Igreja Católica ainda não são suficientes. Mas muitos movimentos eclesiais e associações laicais, que fazem um belo serviço missionário.
 

Quais as características da Igreja na Amazônia que o senhor destaca? 

 
É uma Igreja ainda jovem, esperançosa e missionária. A presença da Igreja Católica na Amazônia começou no início do século XVI, com os missionários Carmelitas, Mercedários, Jesuítas, Capuchinhos e Franciscanos. A eles foram se juntando, ao longo do tempo, os Redentoristas, Salesianos, Espiritanos, da Consolata e outros. Foram as Ordens e Congregações religiosas que asseguraram, até recentemente, o serviço missionário e eclesial na vasta região e o fizeram muito bem. Atualmente, porém, grande parte dos bispos da Amazônia é de brasileiros e do clero secular; eles devem prover ao clero de suas dioceses e já não podem mais depender da ajuda missionária estrangeira; por isso, cada vez mais, é a própria Igreja de todo o Brasil, que deve olhar para a Amazônia com solidariedade missionária. E foi a isso que o Congresso Eucarístico apontou. A Igreja na Amazônia precisa muito do nosso apoio missionário, de pessoas e de recursos materiais.
 

A Arquidiocese de São Paulo toma parte dessa preocupação missionária em relação à Amazônia?

 
Certamente! Colaboramos com recursos para sustentar o projeto missionário “Sul 1 – Norte 1”, que prevê o envio de missionários das dioceses do Estado de São Paulo aos Estados do Amazonas e de Roraima e a sua manutenção; participamos do “fundo de solidariedade eclesial” da CNBB, que recolhe mensalmente 1% da arrecadação de cada diocese do Brasil para destinar à formação do clero nas dioceses da Amazônia. Enfim, temos um sacerdote que presta ajuda missionária na diocese de Castanhal, no Pará, na paróquia de Igarapé-Açu. Durante o Congresso, tive a ocasião de visitá-lo, junto com Dom Sérgio de Deus e Dom Eduardo Vieira, e pude perceber que faz um belo trabalho e que o povo e o bispo estão felizes com a ajuda dele.
 
Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO Edição 3116 - 24 a 30 de agosto de 2016