‘Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’

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Jejuar nos dias determinados pela Igreja é um preceito para os católicos
Publicado em: 27/03/2019 - 14:15
Créditos: Redação

Guardar abstinência e jejuar nos dias determinados pela Igreja é um preceito para os católicos. O artigo 2043 do Catecismo da Igreja Católica (CIC) recorda que esse preceito “assegura os dias de ascese e de penitência que nos preparam para as festas litúrgicas e contribuem para nos fazer adquirir domínio sobre os nossos instintos e a liberdade do coração”.

No artigo 2015, o CIC recorda, ainda, que o caminho da perfeição passa pela cruz: “Não há santidade sem renúncia e combate espiritual. O progresso espiritual implica a ascese e a mortificação, que conduzem, gradualmente, a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças.”

Nesta edição, O SÃO PAULO dá destaque à penitência e ao jejum. Oração, jejum e esmola são hábitos que devem ser praticados não somente durante a Quaresma, mas fazem parte da vida dos cristãos.

 

PERDOAR SEMPRE

A narrativa do livro de Jonas, em que ele permanece no ventre da baleia, é uma das mais populares, tanto na tradição judaica quanto na cristã. Lido no Dia do Perdão na tradição judaica, o trecho ensina a importância do arrependimento e do retorno ao bem.

Na tradição cristã, por sua vez, a história é conhecida e citada desde o tempo das primeiras comunidades cristãs. A estada de Jonas no ventre do monstro marinho prefigura a Morte e a Ressurreição de Jesus (cf. Mt 12,40), e a história de Jonas é lida na liturgia da Igreja Católica na 27ª semana do Tempo Comum e na quarta-feira da 1ª semana da Quaresma (Jn 3,1-10).

Enviado para a cidade de Nínive, Jonas vai em direção oposta e quer fugir. Ele, então, passa por uma tempestade e é jogado ao mar, mas é engolido por um grande peixe. E, dentro do ventre do peixe, reza a Deus, que o livra da morte. Agradecido a Deus, Jonas vai cumprir sua missão em Nínive.

O tempo em que ele permaneceu na barriga do peixe é o de reflexão e de aprofundamento da fé, um tempo para rever a própria atitude e, decididamente, dizer sim a Deus.

As pessoas de Nínive são chamadas à mudança de vida: “Invocarão a Deus com vigor e se converterá cada qual de seu caminho perverso e da violência que está em suas mãos” (Jn 3,8). O perdão e a misericórdia de Deus são para todas as pessoas.

A história recorda a todos a importância de dar o perdão, e dá-lo em primeiro lugar a si mesmo. Deus é compaixão e misericórdia. Portanto, criado à sua imagem e semelhança, o ser humano tem a vocação de desenvolver as mesmas atitudes.

 

MORTIFICAÇÃO

A ascese faz parte da espiritualidade cristã e, no seu âmbito, são colocadas as atitudes do jejum e da penitência. Desde as primeiras comunidades, os padres da Igreja e também os santos foram pessoas ascéticas. Na Constituição Apostólica Paenitemini, de São Paulo VI, sobre a disciplina eclesiástica da penitência, o então Papa recorda que “a verdadeira penitência não pode prescindir da ascese, que inclui a mortificação do corpo, de todo o ser”.

O termo ascese tem origem na cultura grega e significa exercício realizado com esforço e método. Na cultura cristã, a ascese ficou marcada pela dimensão abnegativa. No entanto, Santo Agostinho e São Bento desenvolveram a dimensão da ascese como esforço para crescer na capacidade de amar e de ser humilde.

A mortificação, em sentido amplo, é isto: luta de morte a tudo aquilo que obstrui a obtenção de um ideal, que atrapalha a consecução de uma meta. Por essa razão, a mortificação é parte integrante da educação humana.

O Batismo é a verdadeira fonte da mortificação cristã, que não significa dar morte ao corpo, mas, sim, ao pecado. É ter uma vida disciplinada para não desperdiçar a graça de Deus.

O termo “mortificação” tem sua origem no texto bíblico da Carta aos Colossenses, capítulo 3, versículo 5. Na Carta aos Romanos, por sua vez, São Paulo fala sobre a morte do homem velho, que morre para que nasça, pela graça de Deus, um homem novo.

Desse modo, o verbo “mortificar” assume a significação de morte a uma existência pecaminosa. Portanto, o termo mortificação significa morte ao pecado, ao “homem velho”. Com a mortificação, o ser humano se eleva ao Senhor.

 

TOME A SUA CRUZ

“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34). O trecho recorda aos discípulos de Jesus que não é possível segui-Lo sem passar pela cruz. Carregar a cruz, numa dimensão de ascese e mortificação, significa cumprir com esforço os deveres próprios, aceitar as contrariedades e a dor como parte de um processo de purificação e de perceber a presença de Deus nos acontecimentos da vida.

Ao compreender a dimensão da cruz, o cristão empreende também um caminho de manifestação do seu amor para com Deus, por meio da oração, da penitência e do jejum, ou seja, com palavras e ações, para, assim, corresponder ao imenso amor de Deus.

Assim, o amor de Deus, manifestado até as últimas consequências com a morte de Jesus na cruz, é o motivo mais profundo para qualquer tipo de sacrifício cristão. Um amor que inclui a consciência dos próprios pecados e misérias e que procura obter o perdão de Deus.

(Com informações de Vida Pastoral, Aleteia, You Cat e Vatican.va)
 

Sobre o jejum da Igreja

Uma pesquisa rápida na internet sobre a palavra jejum pode levar o leitor a se deparar com múltiplas páginas que ensinam como ficar sem comer por curtos ou longos períodos de tempo. A maior parte desses métodos, porém, tem um objetivo puramente estético, e isso nada tem a ver com o jejum prescrito pela Igreja.

A prática fiel do jejum indicada pela Igreja contribui para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo Agostinho escreveu um tratado sobre a utilidade do jejum, no qual recorda: “Certamente, é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura”.

Em sua mensagem para a Quaresma, em 2009, o Papa Bento XVI retomou Santo Agostinho e recordou que “está claro que jejuar é bom para o bem-estar físico, mas para as pessoas de fé é, em primeiro lugar, uma ‘terapia’ para curar tudo o que lhes impede de conformar-se à vontade de Deus”.