Paróquia São José celebra 70 anos de fundação.

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<p>Referência no Jaguaré desde a construção do bairro, igreja cresceu com o povo e para o povo.</p>
Publicado em: 05/02/2015 - 16:45
Créditos: Elvira Freitas

Com um tríduo iniciando no dia 5 de fevereiro, às 20 horas, na Matriz de São José, continuando dia 6, no mesmo horário, e se encerrando no dia 7 com duas missas – às 15h com bênção aos doentes e pessoas idosas – e às 20h, com reflexão sobre a família –, a comunidade da Paróquia São José do Jaguaré abre as festividades do jubileu de 70 anos de criação, cujo ponto culminante será a solene celebração eucarística, dia 8, às 10h.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A celebração será presidida pelo bispo auxiliar de São Paulo na Região Episcopal Lapa, dom Julio Endi Akamine, e concelebrada pelo pároco, padre Roberto Grandmaison. Também como parte das comemorações do aniversário da Paróquia, está acontecendo desde início de janeiro com término previsto para março as Missões Redentoristas no território paroquial, unindo ainda mais fiéis e comunidade.

 

Mais uma vez os sinos da matriz repicarão, chamando o povo a celebrar e regozijar-se por mais esse tempo de glória, tempo que começou em 1943, com os padres canadenses Lionel Corbeil, Guilherme Dupuis e Oscar Melanson. Eles foram os primeiros a desembarcar no Brasil, mais precisamente em São Paulo, para fundar aqui a Congregação de Santa Cruz e a futura paróquia, por iniciativa do então arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, dom José Gaspar de Affonseca e Silva.

Uma história de desafios, trabalhos e muita dedicação dos padres, do povo e da vontade do empresário Henrique Dumont Villares em ampliar o recém-criado bairro operário. Ele, a partir de 1935, não só implantou entre a estação Presidente Altino e o Rio Pinheiros um moderno parque industrial, como também criou um bairro residencial nos modernos moldes europeus para aquela época, e se preocupou também com a saúde, educação, lazer e com a espiritualidade do povo.

Chegada dos padres canadenses

Parte dessa história compõe as memórias do padre Lionel Corbeil, aqui transcritas. “A Cia Imobiliária Jaguaré, naquele tempo, procurava uma ordem religiosa para cuidar da formação espiritual e recreativa, da educação e da saúde da pequena, mas futura população operária do bairro de Jaguaré (de apenas 800 habitantes em 1945). Como os padres estavam sem recursos financeiros, a Cia. deu-lhes, para começar as suas obras, um terreno com pequenas casas e outro para construção da futura igreja, bem como o uso da bela escola por ela construída”.

Como os padres ainda não tinham casa em Jaguaré, o padre Corbeil, nomeado vigário pela Cúria, não tomou posse de imediato do seu ofício, mas celebrou uma missa ao ar livre para marcar na memória da pequena comunidade o fato da instalação da Paróquia. Em junho de 1946 os padres mudaram-se para sua nova casa em Jaguaré e logo começaram suas atividades apostólicas. Indicado pela Congregação, padre Guilherme foi nomeado pela Cúria Metropolitana primeiro pároco de São José do Jaguaré.

 

O que era Jaguaré em 1946? Um parque industrial em progresso, com várias fábricas, na sua parte plana, e umas 50 pequenas casas construídas pela Cia. Imobiliária Jaguaré nas colinas ao redor. As ruas bem delineadas segundo um plano urbanístico eram todas de terra. Não havia condução para a cidade nem centros de culto, de educação, de saúde ou recreativo.

Logo os padres perceberam que o problema mais urgente era saúde: muitas crianças doentes, mortalidade infantil por falta de cuidado e até por ignorância. A primeira iniciativa não foi religiosa e de culto, mas sim de assistência social. Foi aberta um ambulatório em uma das pequenas casas. Com a colaboração do doutor Nery Siqueira e Silva, começava o atendimento gratuito duas vezes por semana ao povo pobre da Paróquia.

A escola é confiada aos padres

Também nos primórdios do bairro Jaguaré a escola que ali existia e fora fundada pela Cia Imobiliária Jaguaré, o Externato, como era chamada, foi confiada aos padres a partir de 1947. “Já bem no início de 1947, a Cia Imobiliária Jaguaré nos confiava o prédio de sua escola sob a direção do pároco e oferecia generosamente para pagar as despesas para a manutenção dos professores, funcionários e do prédio”, relata padre Corbeil em suas memórias.

Logo em março abriu-se o Externato Jaguaré com curso primário. Os resultados logo se fizeram sentir no meio da população com uma melhoria sensível no ambiente familiar e social. Imediatamente instalou-se na escola a Capela Paroquial com todos os serviços: missa, Batismo, Matrimônio etc. O ambulatório passou para a Escola e com o auxílio do SESI ganhou também um gabinete dentário.

Com essas realizações, o compromisso dos padres com a Cia. Jaguaré era quase completo; faltava somente a parte recreativa, pois um bairro sem condução precisava de certas diversões. O Externato cuidou dos jogos infantis e de esportes. A Cia emprestou o salão da Casa Grande, perto do Relógio e o pároco organizou sessões de cinema com projetor de 16 mm, bem como algumas festas sociais para as famílias.

Por fim, a construção da igreja

Ao mesmo tempo em que se cuidava da escola e do ambulatório médico, estudava-se as plantas da futura igreja. Em 1948, através de uma permuta de terreno, foi doado pela Cia. Jaguaré o terreno definitivo onde se encontra a igreja atual. No mesmo ano foi feito o aterro e terraplenagem, bem como o lançamento da pedra fundamental, em 18 de setembro. Em 1949 iniciou-se a construção da igreja, num ato solene com a presença do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então arcebispo de São Paulo.

“Sem recursos financeiros, fizemos apelo aos nossos poucos paroquianos, à benemérita Cia., a nossos amigos aqui no Brasil e no Canadá”, disse padre Corbeil. A planta original sofreu várias alterações, no intuito de construir uma igreja mais simples, de acordo com as possibilidades financeiras. Assim, construiu-se de imediato somente a nave cortada de 5,10 metros de altura, com telhado provisório de papel de asfalto para poder ocupá-la quanto antes e liberar a Capela da Escola para as finalidades próprias.

Em 1951 iniciou-se o culto na nova igreja, terminada em parte com chão de cimento sem ladrilhos. No decorrer dos anos seguintes, ela foi melhorada, prestando todos os serviços religiosos e de assistência social duma paróquia bem organizada. Em 1962, as plantas foram reformuladas e terminou-se a construção da igreja com a colaboração do padre José Bouchard e padre Lionel Corbeil. Foi neste mesmo ano que as irmãs de Santa Cruz chegaram ao bairro, aceitando a direção do Externato Jaguaré.

Muitos motivos para comemorar

Nos seus 70 anos de vida, a Paróquia São José sempre esteve inserida no contexto da Igreja local, da Arquidiocese de São Paulo, sob a orientação dos bispos e vigários episcopais que passaram pela Cúria da Lapa. Sob a administração de padre Roberto Grandmaison (pároco entre 1974 e 1984; de 1995 a 2000; e de 2006 até hoje), a Paróquia participou da elaboração e vivência dos 11 Planos de Pastoral que nortearam a missão da Igreja paulistana. Em especial do primeiro, no início dos anos 1970, que introduziu a missão na cidade, por inspiração do então arcebispo, cardeal dom Paulo Evaristo Arns.

Um dos grandes motivos que a Paróquia tem para celebrar 70 anos de vida é que, a partir dos anos 1970, ela foi responsável pela criação de quatro Comunidades Eclesiais de Base: Morro Continental (que já não existe), Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida e Bom Jesus. Com isso, ela levou a Palavra de Deus aos morros e vilas e tornou Jesus Cristo conhecido pelo povo, o mais simples, mais humilde, como os que Jesus arrebanhou em sua missão terrena.

Outro motivo de júbilo, de alegria, foi a criação do projeto social – Programa Jaguaré Caminhos, onde atende crianças e adolescentes da Vila Nova Jaguaré e suas famílias, como forma de melhorar suas condições de vida, mas, principalmente, para devolver a elas a dignidade humana.

Nestes anos de vida, a Paróquia São José do Jaguaré saltou dos 800 fiéis iniciais para aproximadamente 30 mil em seu território. Fiéis perseverantes, como a Maria Aparecida Mazzo (Cida), 74 anos de vida, dos quais 67 dedicados à Paróquia. “A Paróquia São José do Jaguaré foi o que de melhor aconteceu em sua vida. Não que eu não teria sido feliz em outra paróquia, mas foi a Congregação de Santa Cruz que me ajudou a descobrir a palavra de Deus, a entender o meu compromisso, minha responsabilidade e vivenciar isso. Isso me fez uma pessoa feliz até hoje”.