Papa canoniza missionário no Siri Lanka

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O Papa Francisco canonizou na manhã desta quarta-feira, 14, em Colombo, José Vaz, o Apóstolo do Sri Lanka. O missionário português do século XVIII é para a Igreja Católica
Publicado em: 14/01/2015 - 15:00
Créditos: Redação com Rádio Vaticano

O Papa Francisco canonizou na manhã desta quarta-feira, 14, em Colombo, José Vaz, o Apóstolo do Sri Lanka. O missionário português do século XVIII é para a Igreja Católica um exemplo de “respeito por todos, sem distinção de etnia ou religião”. Nos tempos atuais, a mensagem é clara: Francisco quer mostrar que “é possível conciliar as diferenças”.

No final da missa o Papa recebeu do Arcebispo de Colombo, Cardeal Ranjith, 70 mil dólares, oferta dos fiéis ao Santo Padre. “Nós somos um país pobre, mas queremos contribuir à caridade do Papa”, disse.
Por sua vez, o Papa doou à Igreja do Sri Lanka a réplica em cobre do Documento emanado pelo Rei Keerthi Sri Rajasinghe de Kandy declarando que não era mais proibido aos budistas se converterem ao cristianismo. Era o ano de 1694. O documento original foi doado ao Papa Leão XIII pelo então Arcebispo de Colombo, Dom Christopher Bonjean.

Objetivo central

A cerimônia de canonização em Colombo foi o "ponto central" da visita pastoral. Francisco já na sua chegada ao Sri Lanka na manhã de terça-feira, 12, deixou bem claras as suas prioridades: mostrar ao mundo que a “reconciliação” é possível e que a conciliação entre as diferentes religiões e etnias, mesmo sendo uma tarefa difícil é possível.

O missionário José Vaz, nascido em Goa em 1651, sacerdote da Congregação do Oratório se transferiu para o então Ceilão, quando teve início a invasão da região pelos holandeses. Trabalhou ao lado das populações durante décadas, foi preso e manteve a sua missão evangélica de forma clandestina, batizando, celebrando missas e catequizando a população católica. Morreu em 1711, precisamente, no Sri Lanka onde, segundo a Igreja, deu provas de ser um grande padre missionário, vivendo de forma pobre e corajosa numa época de perseguição aos cristãos. Ele fez ainda a tradução do Evangelho para o tâmil e o cingalês.

Realidade do país

O Sri Lanka é um país de maioria budista e com uma escassa percentagem (cerca de 7%) de cristãos. Viveu uma terrível guerra interna que, entre 1983 e 2009, custou a vida a mais de 100 mil pessoas nas lutas entre as autoridades e os guerrilheiros tâmil: hoje é um país à procura da reconciliação. Francisco não esqueceu este objetivo. Já na sua chegada sublinhou que a visita era antes de tudo pastoral e que, como pastor universal, pretendia encontrar e encorajar os católicos desta ilha e levar-lhes o "exemplo de caridade cristã e de respeito por todos, sem distinção de etnia ou religião através da canonização de José Vaz. Mas disse ainda que a visita era a expressão do amor e a solicitude da Igreja por todos os cingaleses.

A canonização de José Vaz nesta manhã foi uma verdadeira festa da fé, um encontro com a realidade de uma Igreja que deseja ser ponte em uma sociedade em busca de um caminho comum. E o exemplo de humildade e santidade de São José Vaz certamente será de apoio e estímulo para um povo que vive a dimensão da sua fé em meio às vicissitudes de um país de maioria budista mas que deseja ser a terra de “todos os homens de boa vontade”.

Lugar de fé e oração

Já no meio da tarde Francisco deixou Colombo para visitar o Santuário de Nossa Senhora de Madhu, e essa visita fez com que o povo do Sri lanka voltasse ao passado e vivesse desta vez com alegria, a sua fé. Este Santuário, símbolo da reconciliação nacional, no passado foi um campo de refugiados, daqueles que fugiam da guerra civil que durante 30 anos ceifou a vida de mais de 100 mil pessoas. Foi a primeira visita de um Pontífice a este local de oração onde rezou com os fiéis desta região de maioria budista pela paz, para pedir a Nossa Senhora que interceda por esse dom. Paolo VI e João Paulo II visitaram este país, mas não puderam ir até Madhu.
Multidão de fiéis

Desde as primeiras horas do dia, como em Colombo, os fiéis se reuniram ao redor do Santuário esperando a chegada de Francisco, que tanto desejou ir a esse templo para rezar e confirmar na fé esses irmãos. Este Santuário que se encontra na Diocese de Mannar tem sua origem no ano de 1544. O então Rei de Jaffna mandou matar 600 cristãos que foram evangelizados pelos portugueses que chegaram à Ilha de Ceilão, como então se chamava o Sri Lanka, em 1505. O rei temia a expansão portuguesa. Alguns dos fiéis com temor da morte escaparam para a floresta e ali construíram um pequeno lugar de oração, colocando uma estátua de Nossa Senhora que se encontra até hoje no mesmo lugar.

Os holandeses desembarcaram nestas terras em 1656 e deram início a uma violenta persecução dos católicos. Trinta famílias católicas vão de aldeia em aldeia à procura de refúgio, levando consigo a estátua de Nossa Senhora e, em 1670, se estabelecem em Maruthamadhu, lugar onde se ergue atualmente o Santuário.

Não obstante a devoção, a zona do Santuário não foi poupada pelos combates nos anos passados entre os rebeldes tâmil e as forças governamentais. Mas os bispos do País conseguiram  fazer de Madhu uma zona desmilitarizada, garantindo a segurança dos peregrinos e dos numerosos refugiados que acorreram para essa área, fugindo da guerra.  O lugar tornou-se um verdadeiro campo de refugiados, reconhecido como tal pelas partes em conflito.

Perdão presidencial

Como informação e fruto dessa viagem de Francisco, o Presidente da República do Sri Lanka, Siresena concedeu o Decreto de perdão presidencial a 612 prisoneiros, 575 homens e 37 mulheres.
Na manhã desta quinta-feira, 15, o Papa deixa o Sri Lanka. Francisco retoma o seu cajado de peregrino da paz e parte para as Filipinas, segunda parte da sua segunda viagem ao continente asiático. Retorna ao Vaticano na próxima segunda-feira.