Os 50 anos da encíclica Ecclesiam Suam

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Trata-se da primeira encíclica do pontificado do Papa Montini,publicada no ano seguinte à sua eleição como sucessor de Pedro
Publicado em: 17/09/2014 - 14:15
Créditos: Edição nº 3018 do Jornal O SÃO PAULO – página 05

No dia 6 de agosto passado, completaram-se 50 anos da publicação da encíclica Ecclesiam Suam, do Papa Paulo VI. Trata-se da primeira encíclica do pontificado do Papa Montini, publicada no ano seguinte à sua eleição como sucessor de Pedro.

Nela, o Papa Paulo VI revelou-nos a sua apreensão e, ao mesmo tempo, suas expectativas em relação à Igreja, naquele período de tão grande significado, com a realização do Concílio Vaticano II.

O Servo de Deus Paulo VI chama a atenção, em primeiro lugar, para a necessidade da Igreja aprofundar a consciência de si mesma: “do tesouro de verdades de que é herdeira e guarda, e da missão que deve exercer no mundo” (n.7); “deve aprender a conhecer-se melhor, se quer realizar a própria vocação e oferecer ao mundo a sua mensagem de fraternidade e salvação. Precisa experimentar Cristo em si mesma, segundo a palavra do Apóstolo São Paulo: ‘Habite Cristo pela fé nos vossos corações’ (Ef 3,17)”.

Num segundo momento, Paulo VI fala da renovação a que a Igreja está sempre sujeita: “Perfeita no seu conceito ideal, no desígnio de Deus, a Igreja deve ir-se aperfeiçoando sempre na expressão real, na sua existência terrestre” (n.19). Porém, é preciso estar atento, afirma o Papa Montini, para compreender a reforma não como mera mudança, mas como esforço para manter na Igreja a fisionomia que Cristo lhe imprimiu, para levá-la a corresponder sempre melhor ao desígnio de Cristo sobre ela (cf. n.24).

Por fim, ele fala da necessidade da Igreja manter-se aberta ao diálogo: com todos os homens e mulheres do nosso tempo, com os não cristãos e com os que embora cristãos não estão em plena comunhão com a Igreja Católica.

Trata-se, porém, de um diálogo que se distingue pela clareza, pela mansidão, pela confiança e pela prudência (n.47); que, “não pode ser fraqueza nos compromissos com a nossa fé… sem transigir com meias atitudes, ambíguas, quanto aos princípios teóricos e práticos característicos da nossa profissão cristã (…) Só quem é de todo fiel à doutrina de Cristo pode ser apóstolo eficaz” (n.50).

A face da Igreja, descrita pela Papa Paulo VI, revela o desejo de levar todas as pessoas àquela comunhão, querida por Deus, dos homens e mulheres entre si, conscientes de serem membros de uma mesma família e, ao mesmo tempo, quer ser instrumento que favoreça a paz entre as nações: “A abertura dum diálogo, tal como deseja ser o nosso, desinteressado, objetivo e leal, pesa já por si em favor duma paz livre e honesta; exclui fingimentos, rivalidades, enganos e traições; não pode deixar de proclamar, como delito e como ruína, a guerra de agressão, de conquista e de predomínio…” (n.59).

Por ocasião do 50º aniversário da fundação do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, o Papa Francisco recordou a encíclica Ecclesiam Suam, dizendo que a Igreja, no período do Concílio Vaticano II, “sentia-se animada por um sincero desejo de encontro e diálogo com toda a humanidade, em poder apresentar-se a um mundo em rápida transformação, na sua mais profunda e autêntica identidade”.

Comprovando a atualidade da encíclica Ecclesiam Suam, o Papa Francisco exorta-nos hoje: “a percorrer o caminho do diálogo e intensificar a cooperação já frutuosa com todos aqueles que, pertencentes a diferentes tradições religiosas, partilham a vontade de construir relações de amizade e tomam parte nas numerosas iniciativas de diálogo”.

Fazendo memória de tão importante documento, nestas semanas que antecedem à beatificação do Papa Paulo VI, possamos retomá-lo e acolher as indicações daquele venerável Pastor da Igreja de Cristo, que conduziu a Igreja durante o Concílio Vaticano II e nos anos difíceis que o sucederam.

“Alegramo-nos e sentimo-nos confortados ao observar que o diálogo no interior da Igreja, e com os de fora que lhe estão mais próximos, se vai já praticando: a Igreja está hoje mais do que nunca viva! Mas, reparando bem, parece que tudo está ainda por fazer, o trabalho começa hoje e não acaba nunca. É lei da nossa peregrinação na terra e no tempo. É este, Veneráveis Irmãos, o múnus habitual do nosso ministério: tudo o estimula hoje a renovar-se, a tornar-se vigilante e operoso” (Paulo VI, Ecclesiam Suam, n.68).

Dom Milton Kenan Júnior
Bispo auxiliar da Arquidiocese na região Brasilândia