Missa abre oficialmente processo de beatificação e canonização de Dom Helder

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O arcebispo de Olinda e Recife (PE), Dom Fernando Saburido, presidiu neste domingo, 3, a Missa oficial de abertura do processo de beatificação e canonização de Dom Helder.
Publicado em: 04/05/2015 - 13:45
Créditos: Redação com Arquidiocese de Olinda e Recife

O arcebispo de Olinda e Recife (PE), Dom Fernando Saburido, presidiu neste domingo, 3, a Missa oficial de abertura do processo de beatificação e canonização de Dom Helder Pessoa Camara, com a posse do tribunal responsável pela causa.

Com a leitura do decreto de constituição do tribunal, Dom Saburido apresentou o grupo de trabalho, que é composto por cinco membros: juiz delegado e promotor de justiça (ambos canonistas), notário, notário adjunto e cursor. “O objetivo deles será analisar os novos textos publicados por dom Helder e ouvir pessoas que tiveram contato com o Servo de Deus.”, explica o postulador da causa de beatificação e canonização de dom Helder, frei Jociel Gomes.

Processo

Uma comissão histórica atuou durante o pedido de abertura do processo, concluído em maio de 2014. Menos de um ano depois, em fevereiro, a arquidiocese recebeu o aval da Santa Sé ratificado por meio de carta enviada pelo prefeito da Congregação Causa dos Santos, Cardeal dom Angelo Amato. Contudo, a correspondência só chegou à arquidiocese, no início de abril. Só então, dom Saburido assinou o edital tornando pública a autorização do Vaticano.

“Tenho um carinho enorme por dom Helder e desde que cheguei à arquidiocese há esse desejo do povo de Deus. Enviamos o pedido no dia 27 de maio do ano passado e nos surpreendeu positivamente o retorno rápido da Santa Sé. Agora vamos trabalhar para concluir a etapa diocesana do processo. Em seguida, será a vez do Vaticano realizar a outra parte processo”, declara dom Saburido.

Terminada a fase diocesana, o postulador elaborará o “Positio”. Trata-se de um compêndio dos relatos e estudos realizados pela comissão, contendo uma biografia documentada e a apresentação das virtudes teologais e cardeais praticadas pelo Servo de Deus.  Assim que aprovado, o papa concede o título de Venerável Servo do Senhor.

A penúltima etapa é a da beatificação. Ser beato, ou bem-aventurado, significa representar um modelo de vida para a comunidade e, além disso, que essa pessoa tem a capacidade de agir como intermediário entre os cristãos e Deus. Para isso será necessário o reconhecimento de um milagre realizado por intercessão do Servo de Deus.

Depois, ainda é preciso passar por mais uma fase: a canonização. Para ser proclamado santo é imprescindível a comprovação de outro milagre, que deve ocorrer após sua nomeação como beato.

Perfil

Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, e  teve 12 irmãos. Após entrar muito jovem no Seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos 22 anos.

O primeiro momento da vida religiosa de dom Helder foi marcado pela militância junto a instituições políticas conservadores, como a Ação Integralista Brasileira, entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso considerou a participação como um erro da juventude. Já radicado no Rio de Janeiro desde 1936, passou a optar por um trabalho assistencialista, quando fundou departamentos da Igreja voltados para atender os mais necessitados.

Após longo período atuando na então capital do Brasil, dom Helder foi nomeado para o Maranhão. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe militar. Na capital pernambucana, o religioso desembarcou em meio a uma relação conturbada entre Governo do Estado e Igreja.

Dois dias após a posse, dom Helder lançaria, juntamente com outros 17 bispos nordestinos, um manifesto à Nação, pedindo liberdade das pessoas e da Igreja. O primeiro grande atrito, entretanto, ocorreu em agosto de 1969, quando o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, por ter criticado a situação de miséria dos agricultores do Nordeste.

A partir de então, dom Helder sofreu represálias, inclusive com sua casa metralhada, assessores presos e com a morte de Padre Antônio Henrique, que foi assassinado. Em 1970, quando dom Helder teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a indicação, já que ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no Brasil. Também em 1970, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar o nome do arcebispo de Recife e Olinda.

Dom Helder comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife até o dia 10 de abril de 1985, quando – por atingir a idade limite de 75 anos – foi substituído pelo arcebispo dom José Cardoso Sobrinho.  Ele morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda.

Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios internacionais, como Martin Luther King, nos Estados Unidos, 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, 1974.  O religioso é autor de 22 livros, a maioria ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.