Mãe: ‘Cada dia uma coisa diferente, um aprendizado’

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Nayá, mãe, Rejane e Juliana, grávidas, contam as emoções e sensações com o primeiro filho
Publicado em: 06/05/2016 - 18:15
Créditos: O SÃO PAULO - Edição 3100

Por Edcarlos Bispo

Há dois meses, já havia recebido o convite para visitar o pequeno Francesco, filho de uma das repórteres do jornal O SÃO PAULO, Nayá Fernandes, nascido em meados de janeiro deste ano. Aproveitei a pauta do Dia das Mães para entrevistá-la, saber das aventuras de ser mãe de primeira viagem e conhecer o pequeno.

Francesco tinha acabado de mamar, estava com uma blusinha de lã e enrolado em um lençol para espantar o frio da tarde de domingo. Nayá embalava o pequeno, ninando de um lado para outro.

Entre risadas, chamegos e mimos, Nayá descreveu as emoções do parto e as dificuldades de, em um sistema que prioriza cesarianas, ter optado por parto normal, mesmo ficando 28 horas no hospital, desde os atendimentos iniciais ao trabalho de parto.

“[Pensei] ‘eu não quero mais ter filho’, mas passa uma semana e você reelabora essa ideia”, afirmou Nayá sobre a romantização que há sobre o parto. “Não há nada romântico”, garante. Mesmo assim, para ela, são momentos que valem a pena.

“É fantástico, cada dia uma coisa diferente, um aprendizado. A medida que ele vai aumentando a comunicação, você se envolve mais. Não é amar mais. Desde que nasce, você ama, mas quando ele vai aumentando a comunicação e vai reagindo a estímulos, vamos interagindo mais e aumentando a conexão”, afirma. 

Mas há questões que para ela são incômodas. Por exemplo, o fato de as pessoas darem “palpites” sobre a forma como a mãe deve cuidar do filho, ou até mesmo a superproteção por parte de outros membros da família, que impedem que os pais tenham a experiência de aprender e vivenciar os detalhes mais simples do cuidado do filho.

“Queria escrever algo sobre os inúmeros conselhos que uma jovem mãe recebe a cada dia. A maioria com tom de reprovação e advertência. ‘Ele não usa chupeta?’ – ‘Mas, você não dá água pra ele?’ – ‘Nossa, deve estar com calor com essa roupa!’ – ‘Não acha que ele está com frio sem roupa?’ – ‘Mas, que absurdo viajar com um bebê tão pequeno!’ – ‘Você não deve acostumá-lo no colo’... E por aí vai. Queria tentar entender por que parece que os filhos são algo que pertencem a todos, e, ao mesmo tempo, começo a me preparar para não repetir essas atitudes daqui alguns bons anos”, escreveu Nayá em seu perfil em uma rede social, que durante a gravidez e esses primeiros meses de vida de Francesco tem sido o meio utilizado pela jornalista, para contar histórias, aventuras e sensações da experiência de ser mãe.

Quanto ao fato de, pela primeira vez em sua vida, viver o Dia das Mães como mãe, Nayá afirma que é adversa a essas datas e comemorações. Ela conta que sabe da importância deste dia ser uma ocasião para a reunião e o encontro com a família e a valorização da figura da mãe, mas “isso é algo que tem que acontecer sempre”.

“O que pra mim é mais importante é o dia a dia, uma coisa que ele faz e me anima, é mais emocionante ver o filho se desenvolvendo que qualquer outra coisa”, conta.

‘É realmente receber o maior presente, um presente onde você é a caixinha’

“Mãe, você foi nove meses de espera, já me amou sem saber como eu era, preparou o enxoval para mim. Mãe, nem sentias o meu carinho, mas eu bem lá dentro sozinho já te amava e cantava assim.”

Essa música do Padre Joãozinho é ouvida em quase todas as missas do Dia das Mães nas comunidades pelo Brasil afora. Entre lágrimas e abraços carinhosos, mães e filhos celebram a Eucaristia, a vida e a família.

Neste ano, na vida de Juliana Leal e Rejane Guimarães, o Dia das Mães terá um sabor diferente. Ambas estão grávidas do primeiro filho.

Juliana está no 8º mês e espera gêmeos, um casal, Rafael e Beatriz. Devido a problemas de pressão alta, teve que ficar em observação na maternidade. Casada há 5 anos, refere-se aos filhos como um presente. “É algo incrivelmente sem explicação. Mesmo sendo esperado, planejado, vem aquela mistura de sentimentos. Um amor incondicional, com o medo de: vamos ser pais! Por onde começamos? Somos capazes?”, confidencia.

Rejane, grávida há 6 meses, preferiu que a entrevista fosse escrita, pois está tão sensível, que só de ouvir as perguntas do jornalista já engasga a voz de emoção.

À reportagem, ela definiu a gravidez como uma incrível experiência bipolar. “Ao mesmo tempo que eu me olho no espelho e contemplo a barriga, sabendo que ali dentro tem uma vida em movimento, me sinto estranha (gorda, sei lá), pois meu físico sempre foi ‘slim’, então, é muito estranho. Estou aprendendo a lidar com essas mudanças também”.

Para as duas gestantes, o Dia das Mães em 2016 será repleto de emoções e com os sentimentos à flor da pele. “Chorei de emoção esta semana ao lembrar desse fato. Não tinha caído a ficha: sou mãe. É realmente receber o maior presente, um presente em que você é a caixinha. Verdadeiro dom e presente de Deus. E no meu caso, um detalhe: em dose dupla”, comenta Juliana.

Rejane acredita que passar o Dia das Mães grávida vai ser mais complicado emocionalmente do que se o filho, que se chamará João Paulo, já tivesse nascido. Para ela, as grávidas estão naturalmente mais sensíveis, e nesse dia a imaginação de como seria estar com o bebê no colo gera uma ansiedade para vivenciar todos os momentos e sensações de estar com o filho nos braços.

As mudanças

As mudanças que ocorrem com uma grávida são sensíveis e extrapolam os limites do corpo: são sensações, sentimentos e percepções que, às vezes, passam despercebidos das pessoas, mas que as futuras mamães vivem na prática. 

“Na mente, parece que liga uma chavinha e, de repente, você não consegue mais pensar em você. Pensa sempre em vocês. Tudo que vai fazer pensa duas vezes, coisas do tipo, ‘será que vai fazer bem pra ele? Será que ele vai gostar?’ E aí não consigo mais me sentir sozinha, onde eu vou tem alguém comigo. A alimentação vai no mesmo ritmo. Coisas que eu não gosto muito, mas sei que são necessárias pra ele ou que fazem muito bem pra ele, eu acabo me esforçando pra comer (feijão, rúcula, grãos) ou, muitas vezes, ficava várias horas sem comer, hoje nem espero sentir fome, pois sei que ele precisa que eu consuma alimentos em intervalos menores”, conta Rejane.

O futuro

Com a iminência do parto e a possibilidade de que os bebês nasçam prematuros, Juliana conta que está apreensiva e cheia de expectativa. Para ela, medo e insegurança fazem parte de tudo que é novo. “Imagina Maria quando recebe a notícia de que seria mãe? Acho que toda mãe se sente como ela. Primeiro, o medo e a insegurança, depois, a entrega... o sim”.  

Para Juliana, a presença do marido em toda a gestação e nos momentos de dificuldade aumenta a segurança para enfrentar as dificuldades e faz com que vivenciem na vida conjugal as promessas do Matrimônio: “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”.

Rejane, por sua vez, não quer que o pequeno João Paulo tenha que entrar em uma rotina de “adulto” para poder se adequar à correria dos pais, como acordar cedo, passar o dia fora de casa em creches ou escolinhas. Para ela, o futuro será de ajustar as necessidades do casal com as prioridades do bebê, entre essas a presença dos pais nos primeiros anos de vida dele.