Elba Ramalho: ‘O aborto é o grande equívoco de nossa sociedade moderna, porque ele mata o futuro’

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Elba tem militado a favor da vida e, nos últimos anos, voltou a vivenciar sua fé católica
Publicado em: 09/01/2015 - 14:15
Créditos: Jornal O SÃO PAULO – Edição 3032

Por Rafael Alberto

“Ser católica e artista ao mesmo tempo me causa, às vezes, um certo conflito”, revela a cantora pernambucana Elba Ramalho, 63. Mãe de quatro filhos – um biológico e três filhas adotadas –, Elba tem militado a favor da vida e, nos últimos anos, voltou a vivenciar sua fé católica. Ao receber a reportagem em seu camarim após um show em São Paulo, quis logo saber em que Igreja poderia participar de uma missa na manhã do dia seguinte. “Eu preciso da Eucaristia diariamente”, justificou.

Nesta entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, Elba revela acreditar que o aborto não traz benefícios para as mulheres e que, apesar da perseguição de alguns grupos feministas, seguirá defendendo a vida. Sobre ter as suas três Marias, nomes das filhas adotadas, a cantora garante que a experiência da adoção é “rica”, e recomenda: “Experimente! É lindo e gratificante”.

O SÃO PAULO – Você sempre foi religiosa?

Elba Ramalho – Sim, sempre fui religiosa, de família católica. Como nasci numa cidade muito pequena no alto sertão da Paraíba, a Igreja era nossa referência. Nossa padroeira, Nossa Senhora da Conceição, era o farol de nossa fé. Ainda criança, ingressamos na Cruzada Católica, eu e meus irmãos, num tempo em que as missas eram rezadas em latim. Em muitas ocasiões, nas festas da padroeira, no dia 8 de dezembro, tive a graça de coroar Nossa Senhora – o que, para mim, era motivo de grande emoção. Portanto, muito cedo, aprendi a amar Nossa Senhora e colocar em suas mãos minhas angústias e alegrias.

Você nasceu no interior do Nordeste. Que recordações traz da infância e adolescência? Era uma vida sofrida?

Recordo  as festas de rua com quermesses e brincadeiras, também dos autos de Natal comemorados com a encenação do pastoril nas escadarias da nossa catedral, onde eu sempre participava como pastorinha. Era tudo muito puro, inocente, até as brincadeiras de roda nas ruas e as serestas feitas ao som do violão de meu pai na calçada de casa. Assim foi minha infância... Junto à família, compartilhando das dores e alegrias, todos por um e um por todos. O lado mais triste era a seca cruel que castigava o sertão e vitimava muitas vidas. Vivi isso bem de perto, o que me fez compreender com mais naturalidade a fragilidade da vida humana e também a força restauradora vinda da fé em Deus, na esperança de dias melhores. As chuvas eram escassas e as colheitas nem sempre fartas, mas a gente seguia com fé!

Você tem defendido publicamente a vida. Porque é contra o aborto?

Não sou contra nada, apenas defendo o direito de todos nascerem, o direito de todos viverem. Penso que a vida é algo muito precioso e sagrado, que dá sentido à existência de todas as outras coisas. O aborto é o grande equívoco de nossa sociedade moderna, porque ele mata o futuro. Também porque as mães, que deveriam acolher, rejeitam. E os médicos, que tem a missão de salvar, matam! A grande vítima do aborto são os menos culpados de toda essa desordem que há no mundo. Precisamos ser voz e vez desses pequenos inocentes que não podem se defender sozinhos, sequer rezar por eles próprios. Ao insurgir contra sua própria espécie, a sociedade humana se desintegra, se brutaliza e perde totalmente sua dignidade, pondo em risco a perpetuação de sua espécie. Deus nos deu as leis para que possamos, por elas, alcançar nossa salvação. Ele disse: “Não matarás!” Precisamos ouvir essa voz, pois, pela desobediência, o pecado entrou no mundo. Tenho muita convicção de que o aborto não traz benefício nenhum às mulheres. Pelo contrário! E nós, que defendemos a vida, defendemos também as mulheres.

Você adotou três filhas, três Marias, e já era mãe biológica. Por que adotou?

Já era mãe biológica e muito feliz, mas a adoção veio num momento circunstancial. Estava casada e queríamos filhos. Como não foi possível, partimos para a adoção e hoje temos uma bela família que em nada se diferencia das outras. Nossas filhas são de verdade e a adoção é um ato de amor. Uma experiência rica que recomendo a todos. Somos todos irmãos em Cristo e, se o mundo compreendesse dessa maneira, seria bem mais feliz. Falta um pouco mais de amor!

O que você diria a quem tem dúvidas em relação à adoção?

Infelizmente, ainda existe um leve preconceito com relação à adoção e isso é uma completa ignorância, uma falta de conhecimento. Noutros casos, há medo, receio de não ser capaz de amar e ou de ter problemas futuros com filhos, que não são de sangue, outro grande equívoco. O medo diminui a consciência, cega, atordoa e confunde. Não podemos ter receio de amar, de compartilhar nosso amor com as pessoas que cruzam nosso caminho. Existem milhares de crianças abandonadas em orfanatos, precisando de uma família, de um lar, do seu amor. Experimente! É lindo e gratificante.

Sua postura pró-vida provocou preconceito contra sua carreira? O que você precisa enfrentar no meio artístico para manter suas posições?

De um modo geral, não me trouxe problemas, exceto algumas perseguições da parte de grupos feministas, o que não me incomoda. Quanto aos colegas, me tratam com respeito porque conhecem meu caráter e meu coração. Sou transparente e sincera. O que os outros pensam não me importa. Importa o que vou ter nas mãos para entregar ao Senhor quando estiver diante dele, e desejo ter muitas vidas!

É possível ser católica no meio artístico? Como você testemunha para o mundo que Elba Ramalho é uma pessoa de fé?

Procuro dar meu testemunho em muitos lugares, quando me convidam. Falo da minha conversão e do amor de Deus que pode ser experimentado por todos. Meu passado me condenaria, porque fui uma grande pecadora e ainda sou, mas hoje tenho a meu favor a confiança na misericórdia divina pela reconciliação através da confissão. Ser católica é a melhor coisa que carrego na bagagem, no bom sentido, é claro. Uma missa para mim é uma bênção e procuro assisti-la todos os dias. O sacramento da Eucaristia é a maior expressão de amor do nosso Deus e todos deviam compreender dessa forma e buscar se purificar das faltas cometidas na Santa Eucaristia. Ser católica e artista ao mesmo tempo me causa, às vezes, um certo conflito. O mundo lá fora é aberto ao pecado e a Igreja é aberta à santidade. Procuro ser o mais santa possível em todos os lugares, mas não sei se consigo e isso me desagrada, porque sei que desagrada a Deus. Mas, chego lá... Vou devagar e, nessa caminhada, procuro ajudar a outras pessoas que não conhecem ainda esse amor. Nossa Senhora me ajudou muito nessa conversão, de uma forma mística e muito presente. Sou-Lhe grata por tanto amor. O que Ela e Jesus me deram foi a prova real de que a Palavra é fiel, Deus é fiel. Onde mais habita o pecado, mais super abunda a graça.

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