#Click a Pé na Catedral da Sé

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Mais de 500 pessoas participaram da 21ª edição do evento, que teve a Catedral como cenário para fotógrafos profissionais e amadores
Publicado em: 03/08/2017 - 12:15
Créditos: Redação

Tereza Kobashikawa tem 67 anos e mora há mais de 50 na cidade de São Paulo, na região central. Católica, Tereza entrou pela primeira vez na Catedral Metropolitana, no domingo, 30 de julho, junto a mais de 500 participantes do “Click a pé”, evento que reúne pessoas de diferentes lugares da Capital e de cidades vizinhas, em torno do interesse pela cidade e também pela fotografia. 

O primeiro “Click a pé” aconteceu em novembro de 2015, a partir do interesse de Mariana Orsi, uma das fundadoras do projeto, cujo principal objetivo é proporcionar às pessoas a oportunidade de conhecer melhor – de forma mais segura e divertida – a cidade de São Paulo. Já na segunda edição, o destino dos “clicadores” foi a Praça da Sé, mas a maioria dos participantes não teve a Catedral como foco principal. 

Dessa vez, em parceria com a Arquidiocese de São Paulo, os inscritos da 21ª edição do “Click a pé” tiveram acesso a lugares como a cripta, o mezanino e a cúpula da Catedral, que normalmente não está aberta ao público. 

“Procuramos lugares que sejam de difícil acesso, e que, portanto, as pessoas não fotografariam se estivessem sozinhas, principalmente por causa da violência urbana”, contou Mariana à reportagem do O SÃO PAULO . 

Uma das preocupações do “Click a pé” é justamente a segurança; por isso, a equipe organizadora conta com auxílio da Polícia, que, avisada anteriormente sobre o evento, faz um reforço na segurança na região que circunda o local ou a área escolhida.

Foi também a primeira vez que o “Click a pé” teve uma igreja como cenário principal. “Já aconteceu de, no passeio, ter igrejas abertas e as pessoas acabarem por fotografá- las; mas, de fato, é a primeira vez que temos acesso a praticamente todos os espaços de uma igreja tão importante como a Catedral da Sé”, continuou Mariana.

 

História

A Catedral da Sé, não obstante ter uma finalidade essencialmente religiosa, com missas diárias e atendimento de confissões, é também um marco cultural e histórico de São Paulo, cidade que, tendo sido fundada pelos padres jesuítas, tem sua história profundamente relacionada à Igreja Católica. Os participantes do “Click a pé” puderam, por exemplo, fotografar o Órgão de Tubos, “que vindo de Milão, na Itália, tem mais de 12 mil tubos”, lembrou Mariana. 

Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé, acompanhou o evento e preparou os colaboradores da Catedral para, durante todo o período do passeio – das 12h30 às 17h –, darem aos participantes informações gerais, não somente sobre a dimensão histórica da Igreja, mas também sobre as atividades que acontecem nela, como horários de missa e o significado das imagens sacras. 

“A igreja de portas abertas cumpre a função de ser um lugar em que as pessoas, por meio da arte, podem ter acesso à fé e à Catequese. Muita coisa dentro do templo fala de Deus. Queremos, portanto, colocar à disposição da comunidade o patrimônio cultural e artístico que a Catedral tem”, afirmou Padre Baronto.

A cripta também foi um lugar que chamou muito a atenção dos participantes, devido à sua arquitetura própria e ao fato de abrigar os restos mortais de personalidades como a índia Bartira, que conviveu no mesmo período de José de Anchieta, um dos fundadores da Capital.

 

Panorâmica

Devido ao grande número de participantes, o maior na história do “Click a pé”, aconteceram sorteios para que algumas pessoas tivessem acesso à cúpula e ao mezanino. Cristiane Gana, 32, que pela 5ª vez participa do evento, foi uma das sorteadas e estava no fundo do templo com o tripé fazendo algumas fotos panorâmicas da Catedral, esperando o momento de desfrutar do prêmio. Ela, que está desempregada, tem procurado se especializar como fotógrafa, para fazer da fotografia sua principal fonte de renda. 

Foi o que aconteceu com Alexandre Rogério Barreto, que era inspetor de equipamentos e deixou tudo para se dedicar profissionalmente à fotografia. Alexandre participa do “Click a pé” desde o início e esteve na Catedral da Sé quando o passeio, em sua segunda edição, reunia 120 participantes. 

Para o domingo na Catedral, Alexandre trouxe Danilo Vicentini Barreto, seu filho de 10 anos, que já esteve por três vezes clicando a cidade com a própria câmera. “Ele juntou dinheiro um bom tempo e, depois, eu o ajudei com o que faltava, para que ele tivesse seu próprio equipamento e pudesse acompanhar o grupo. Está sendo uma experiência maravilhosa”, afirmou o pai. 

Minhocão, Praça da Sé, MAC USP, Pinacoteca, ruas do Bixiga, Praça da República, Liberdade, Arena Allianz Park, Cinemateca e Instituto Biológico, circo, Memorial da América Latina, Metrô – linha amarela, Pateo do Collegio foram alguns dos lugares por onde o projeto já passou, além da cidade de Paranapiacaba (SP), o último passeio antes desse realizado na Catedral. 

“A gente se encontra no local combinado e sai a pé pelas ruas ou pelo local escolhido. A principal vantagem é que em muitos desses lugares não é permitido fotografar com equipamento profissional e uma das coisas que pedimos é que as pessoas possam fotografar com flash, tripé e possam replicar essas fotos. No entanto, o objetivo é ajudar as pessoas a conhecerem melhor a cidade de São Paulo; elas decidem se querem fotografar ou não”, explicou Mariana, que além de fotógrafa é também arquiteta. 

Outro detalhe do “Click a pé” é que os passeios são totalmente gratuitos. “Ninguém paga nada para fazer os passeios, nem nós pagamos nada aos locais escolhidos: tudo acontece em parceria”, dissse a idealizadora. Os projetos para expansão incluem realizar edições fora de São Paulo e também fora do Brasil: Brasília e Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, estão entre os possíveis destinos do grupo.

 

Sob olhares diferentes

Detalhes como o piso quadriculado no presbitério ou o tatu numa das colunas da Catedral não passaram despercebidos, bem como o reflexo dos vitrais nas colunas ou os lustres e as rosáceas coloridas. A Catedral da Sé foi, durante quase cinco horas, observada por todos os ângulos e fotografada por lentes angulares profissionais, por telefones celulares ou, simplesmente, por olhares curiosos de quem se permitiu ser turista na própria cidade. 

Nesta edição, foram 750 inscritos e mais de 500 presentes. As inscrições, feitas no site do “Click a pé”, esgotaram-se em 52 minutos. 

Gustavo Jardim conheceu o “Click a pé” em janeiro deste ano.  Essa foi a primeira vez que ele participou como voluntário na equipe de organização. “Fizemos experiências muito interessantes, como na avenida Paulista aberta aos domingos e no Aeroporto de Congonhas  em que alguns participantes puderam, inclusive, ter acesso à pista onde os aviões decolam e pousam. Quem não conseguiu ir à pista, pôde ir ao salão das autoridades”, contou.

O projeto acontece mensalmente e, ocasionalmente, duas vezes ao mês. Depois do passeio, a organização do evento promove as fotos no Instagram e no Facebook por meio de hashtags próprias. Além disso, há um grupo só para os frequentadores no Facebook, em que as pessoas partilham o resultado de cada passeio e também experiências vividas. “Nós também escolhemos as fotos mais expressivas para colocar no Instagram Oficial do ‘Click a pé’”, comentou Mariana. 

Patricia Borges, que participou desta edição do evento, publicou o seguinte relato no Grupo dos Frequentadores no Facebook: “Ele estava na porta da igreja, parece já desorientado, com dificuldade na fala... Pedia repetidamente olhando nos olhos de quem passava: ‘Me dá Um real?’, Fiquei lá por uns 15 minutos. A frase dele era sempre a mesma: ‘Me dá Um real?’. Em certo momento, ele me olhou e disse: ‘Uma coxinha? Fazendo o número um com o dedo. Pensei que realmente ele deveria estar com fome, e eu não nego ajuda... nunca! Parei a foto, peguei uma moeda de um real e levei pra ele pensando que ele a colocaria no bolso com outras e ainda ficaria ali pedindo mais um pouco... afinal, o que esperar de um pedinte, né? Bom, levei a moeda, olhei nos olhos dele e perguntei: ‘Você quer um real? Ele, com os olhos arregalados, fez que sim, coloquei a moeda na mão dele e ainda repeti: ‘Um real?’, fazendo o sinal de número um com a mão. Ele balançou positivamente a cabeça, de imediato se levantou e agradeceu com palavras incompreensíveis devido à dificuldade na fala. Depois, levantou-se e saiu feliz com a moeda. Eu ainda fiquei ali parada, olhei para a pessoa que estava comigo (nessa hora deve ter caído um cisco no meu olho gente...) e eu disse: ‘Ele só queria um real!’. Neste mundo de problemas complexos, a solução foi tão simples! Tudo o que ele precisava naquele momento era um real, um real! Eu não mudei a vida dele, não o transformei em um super e convertido homem, mas a necessidade dele naquele momento foi suprida, eu fiz minha parte, somos uma sociedade comovida, mas sem ação! Se cada um fizer uma pequena parte, já teremos uma diferente realidade? Acredito que sim! Isso me marcou e quis compartilhar”. 

Para participar do “Click a pé” basta seguir o perfil oficial nas redes sociais, procurando por “Click a pé” no Facebook ou no Instagram, e realizar a inscrição no site, anunciada e realizada antes de cada evento. 

 

Domingo da caridade

O “Click a pé” recolhe doações para instituições escolhidas por eles a cada edição. Dessa vez, foram arrecadados para a Missão Belém 190kg de alimentos e 270 peças de roupas. Antes mesmo de começar a atividade, quando todos escutavam as recomendações sentados nas escadarias da Catedral, Mariana pediu ajuda para que as doações fossem levadas para o interior da igreja.