Assembleia Geral da CNBB tem clima fraterno e produtivo

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O Arcebispo Metropolitano, fez uma avaliação da 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
Publicado em: 25/04/2018 - 11:00
Créditos: Redação
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, fez uma avaliação da 56ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada entre os dias 11 e 20, em Aparecida (SP). Dom Odilo destacou os principais temas abordados pelo episcopado brasileiro, com especial atenção às novas diretrizes para a formação de sacerdotes na Igreja no Brasil. O Cardeal também chamou a atenção para o clima fraterno e sereno e a produtividade do encontro. Confira a íntegra da entrevista.

 

O SÃO PAULO - COMO O SENHOR AVALIA ESTA ASSEMBLEIA GERAL?

Cardeal Odilo Pedro Scherer – A Assembleia foi uma experiência muito rica de encontro e convívio entre os bispos de todo o Brasil. É a única ocasião durante o ano em que todos os bispos do país podem se encontrar, trocar ideias, partilhar experiências, falar sobre suas dificuldades e angústias, rezar e trabalhar juntos. Só por isso, a Assembleia da CNBB já valeria a pena. Mas ela também é uma expressão importante de colegialidade episcopal e da solicitude de cada bispo por toda a Igreja do Brasil. A Assembleia transcorreu em clima fraterno e sereno e foi bastante produtiva, pois discutimos e aprovamos diversos textos e documentos.

 

O QUE O SENHOR DESTACA NAS NOVAS DIRETRIZES PARA A FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS?

Na verdade, elas não são inteiramente novas, mas foi feita a adequação das Diretrizes que já tínhamos às novas normas e orientações da Santa Sé para a formação sacerdotal no mundo inteiro. Nossas Diretrizes insistem na formação de padres pastores e missionários, com uma forte experiência de Deus e da vida da Igreja. A formação no seminário tem duas grandes metas: a formação de discípulos de Jesus Cristo, durante a etapa dos estudos filosóficos; e a configuração dos formandos com Cristo Sacerdote, durante a etapa dos estudos teológicos. Além disso, a formação sacerdotal, nas novas Diretrizes, é vista a partir de dois grandes enfoques: formação inicial, antes da ordenação sacerdotal; e formação permanente, após a ordenação. As Diretrizes colocam destaque especial na formação permanente do clero, conforme normas também dadas pela Santa Sé.

 

QUAIS SÃO AS NOVIDADES DA REVISÃO DO ESTATUTO CANÔNICO DA CNBB?

 O Estatuto da CNBB, após 16 anos de vigência, foi adequado em alguns aspectos. As mudanças principais dizem respeito à composição da Presidência: haverá dois Vice-Presidentes e dois Secretários-Gerais. De fato, o Estatuto anterior não previa um segundo Secretário-Geral, o que era uma lacuna, sobretudo em casos de ausência ou impedimento do Secretário-Geral. Os novos Estatutos também ampliam e definem melhor a identidade e as competências dos Regionais da CNBB.

 

OS BISPOS CHEGARAM A TRATAR SOBRE OS ATAQUES QUE A CNBB SOFREU NAS REDES SOCIAIS? QUAIS ORIENTAÇÕES FORAM DADAS QUANTO À RELAÇÃO DO POVO COM SEUS PASTORES?

A questão foi objeto de reflexão durante a Assembleia Geral e foi tratada numa mensagem divulgada no final da Assembleia. Era necessário que a própria CNBB dissesse uma palavra de esclarecimento sobre a identidade e a missão da Conferência Episcopal, nem sempre compreendidas de maneira adequada por quem promoveu ataques ou diversas formas de desmoralização da CNBB, deixando muitas pessoas desorientadas e inseguras na sua adesão de fé na Igreja e podendo dar origem a divisões na Igreja. Penso que a nota foi oportuna e ficou boa.

 

UM DOS ASSUNTOS DA PAUTA FOI UMA REFLEXÃO SOBRE A RELAÇÃO DA IGREJA E DO ESTADO LAICO. O SENHOR PODERIA FALAR SOBRE ISSO?

Não chegamos a aprofundar muito a questão, que precisa de ulteriores aprofundamentos. Mas a reflexão feita foi boa e ajudou a esclarecer que a Igreja Católica não é contra a laicidade do Estado, corretamente entendida, como afirmação e garantia de liberdade religiosa, separação entre Igreja e Estado, não imposição de nenhuma forma de crer ou não crer por parte do Estado e também garantia de não discriminação religiosa dos cidadãos. Em poucas palavras, o Estado laico não impõe religião a ninguém nem proíbe ou dificulta as manifestações religiosas, mas garante e respeita a liberdade religiosa dos cidadãos e o livre exercício da religião.

 

TAMBÉM FOI PAUTA O CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO, ESPECIALMENTE NESTE ANO ELEITORAL?

Tratamos também do contexto socio-político do Brasil, onde exercemos nossa missão de pastores do povo. Foi elaborada e divulgada uma boa mensagem ao povo brasileiro sobre o ano eleitoral. Diante do quadro variado de crises que vivemos no Brasil, os bispos encorajam os cidadãos a participarem do processo político e eleitoral com coragem, lucidez e esperança. Todos temos responsabilidades na promoção do bem comum. Um apelo especial é feito aos cidadãos católicos para que se façam protagonistas e se envolvam no processo político e eleitoral, apoiando candidatos de “ficha limpa” e zelando pela correta aplicação da lei contra a corrupção eleitoral. Na mensagem, lembram-se as palavras do Papa Francisco, que desafia os católicos leigos e leigas a assumirem de maneira positiva seu papel na vida social e política do Brasil.