A família não é um problema, é uma solução

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Cardeal Scherer defende a necessidade de impulsionar a pastoral familiar nas paróquias, em evento sobre a Exortação Apostólica Amoris laetitia
Publicado em: 27/04/2016 - 09:15
Créditos: Redação com O SÃO PAULO

Por Fernando Geronazzo

“Temos que recolocar a família no centro da pastoral da Igreja”, afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, durante o Colóquio sobre a Exortação Apostólica Pós-sinodal do Papa Francisco Amoris laetitia, realizado no Auditório Paulo Apóstolo, da Paulinas Editora, na segunda-feira, 25.

Com o tema “A educação para o amor e o compromisso cristão na família”, o evento também contou com a presença do Padre José Eduardo Oliveira e Silva, sacerdote da Diocese de Osasco (SP) e doutor em Teologia Moral, que apresentou algumas chaves de leituras do documento publicado no dia 8, como resultado das duas últimas assembleias do Sínodo dos Bispos em 2014 e 2015, ambas sobre o tema da família.

Dom Odilo, que foi padre sinodal nas duas assembleias, apresentou a estrutura da Exortação e chamou a atenção para o fato de o Papa não iniciar o texto a partir das dificuldades enfrentadas pelas famílias, tampouco das perspectivas pastorais, mas a partir da expressão “a alegria do amor que se vive nas famílias é também júbilo da Igreja”.

“Talvez, a expectativa era que o Documento do Papa falasse imediatamente ou dos problemas das famílias, ou das suas situações difíceis. O Papa fala disso, mas não somente. A família é o centro da reflexão e, portanto, a temática vai muito além de um ponto ou de outro”, afirmou o Cardeal.

Ao elencar os temas apresentados no índice da Exortação, o Arcebispo destacou que logo no primeiro capítulo, o Papa deixa claro que quer tratar da família a partir de enfoques sociológico, psicológico etc. “A Igreja fala da família a partir daquilo que lhe é próprio, da luz da fé, da Palavra de Deus”, disse. Nesse aspecto, Dom Odilo salientou que o Pontífice mostra que “a família ao longo da história do povo de Deus é uma realidade onde Deus se manifesta. “As realidades familiares são como que linguagens para a revelação divina”.

Quanto às perspectivas pastorais, Dom Odilo destacou que o Papa pede um renovado interesse da Igreja em relação à família, tirando todos da “zona de conforto”. “Talvez, até agora, a família ocupa na vida pastoral das nossas paróquias, organizações eclesiais, um aspecto muito periférico”, disse.
Sobre as situações de fragilidade tratadas no Documento, o Arcebispo enfatizou que a Igreja deve se colocar concretamente diante das famílias e suas situações e não pretender imediatamente soluções ideais e iguais para todos. “A Igreja convida a fazer caminho de acordo com a situação de cada um”, disse, garantindo que “a família não é um problema, é uma possibilidade, um recurso, entre tantos que existem no mundo”.

Padre José Eduardo começou sua reflexão frisando que é preciso interpretar os textos do Papa no mesmo espírito com que eles foram escritos. “Em sua simplicidade, é muito bem escrito e legível, de agradável leitura”, disse.  Para ele, Amoris laetitia é ponto de chegada de uma nova ótica pastoral que o Papa Francisco vem propondo desde o início de sue pontificado, um divisor de águas na pastoral familiar da Igreja. “De fato, essa exortação é um marco na história da pastoral familiar da Igreja Católica, embora ela deva ser lida na continuidade doutrinal dos documentos eclesiais anteriores”.

Ainda de acordo com o Sacerdote, o grande tema no qual se insere a Exortação é o da nova evangelização. “É exatamente por isso que a Igreja focaliza os seus olhos sobre a família, dizendo que não há como evangelizar o mundo sem ‘reevangelizar’ a família e sem evangelizar a partir da família, sem que ela entenda seu papel evangelizador”, afirmou.

Padre José Eduardo resumiu o Documento em três palavras-chave: “acompanhamento, discernimento e integração”, que, segundo ele, sintetizam a lógica pastoral que perpassa o texto. O Doutor em Teologia Moral ressaltou que o Pontífice convida os pastores a se debruçarem sobre as realidades de cada família em particular, em espírito de oração, fidelidade à norma da fé, para encontrar um modo de ajudar cada uma delas. “Cada família precisa, de fato, se sentir Igreja em qualquer situação em que se encontrar”, afirmou.

Leia mais detalhes na edição 3099 do jornal O SÃO PAULO, a partir da quarta-feira, 27.