'Nós não nos esquecemos de vocês'

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Cardeal Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, preside missa no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros
Publicado em: 27/06/2017 - 16:45
Créditos: Redação

O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, presidiu uma missa no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, na zona Oeste da capital, na sexta-feira, 16.

A missa foi concelebrada pelo Padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária, e pelos padres Jorge Pierozan, vigário episcopal para a Região Lapa, Antonio Francisco Ribeiro, Antonio Ferreira Naves e Pedro Augusto Ciola de Almeida. Participaram da celebração presidiários agentes penitenciários e membros da Pastoral Carcerária, além da diretoria do CDP.

Dividido em quatro unidades, o CDP de Pinheiros tem aproximadamente 6,5 mil presos, sendo que a maioria aguarda o julgamento ou a transferência para outros presídios para o cumprimento de pena. Os presos são distribuídos nas diferentes unidades de acordo com o perfil do crime cometido. A unidade visitada pelo Arcebispo, CDP 3, abriga aproximadamente 1.600 presos que não possuem ligação com nenhuma facção criminosa.

 Deus quer nos restaurar

“Hoje nós estamos aqui para dizer que vocês não foram esquecidos por Deus nem por nós, Igreja. Não nos esquecemos de vocês”, afirmou Dom Odilo aos presos, na homilia.

 O Cardeal também fez uma reflexão a partir da primeira leitura da missa, extraída da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, na qual o Apóstolo afirma que “trazemos esse tesouro como que em vasos de barro”.

“Esse tesouro é o nosso chamado à vida plena, a estar com Deus, é a graça da salvação que Cristo mereceu por todos nós com a sua cruz”, destacou o Arcebispo.

Dom Odilo recordou, ainda, que, como vasos de barro, os seres humanos são frágeis e podem se quebrar. “Deus quer nos restaurar das nossas fragilidades. Por isso, precisamos nos voltar para Ele, com humildade, pedir-lhe ajuda, o perdão e realimentar em nós o que é bom, cuidar desse vaso frágil que somos nós”, acrescentou.

O Arcebispo também chamou a atenção para a oração litúrgica do dia – “Ó Deus, fonte de todo o bem, atendei ao nosso apelo e fazei-nos, por vossa inspiração, pensar o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda” –, convidando todos a buscarem sempre a fonte desse bem.

Encontro com Cristo

“Acompanhar, orientar espiritualmente é dar um significado importante para a vida e levá-los a um encontro com Cristo”. Assim Padre Valdir resumiu, ao O SÃO PAULO, a missão da Pastoral Carcerária. Ele também explicou que a Pastoral busca reduzir o impacto da violência e das tensões dentro dos presídios. “O trabalho junto ao cárcere é evangelizar e cuidar da dignidade da pessoa presa”, acrescentou.

Ele destacou, ainda, que a procura pelos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação é muito grande por parte dos presos, mas o número de sacerdotes é insuficiente para dar conta da demanda. “Todas as semanas são realizadas celebrações da Palavra pelos voluntários leigos, mas nem sempre é possível celebrar missas e atender as confissões de todos”.

 Padre Valdir também afirmou que o processo de recuperação do preso exige paciência. “Esse processo necessita de escuta e abertura para a colher a pessoa, para que ela vá se reerguendo aos poucos”, disse.

Segundo o Sacerdote, nessas conversas e atendimentos espirituais, descobre-se que geralmente as pessoas são levadas ao mundo do crime pela violência sofrida na infância e na adolescência. “Como padre, digo que todas as pessoas que eu ouvi até hoje têm a história marcada pela violência desde a infância”, acrescentou o Coordenador nacional, destacando que o principal objetivo é recuperar a pessoa para que ela se reconcilie consigo mesma, com a comunidade e com Deus.

Padre Valdir destacou, ainda, que a visita a um presídio é uma oportunidade de conversão também para os voluntários. “Encontramo-nos com Cristo atrás das grades, mesmo que a pessoa esteja desfigurada pelo pecado, pois é o próprio Evangelho que diz: estive preso e viestes me visitar”, comentou.

Presença missionária

Os membros da Pastoral Carcerária visitam o CDP de Pinheiros duas vezes por semana. Dentre os voluntários está o casal James e Marilyn Kott, missionários leigos de Maryknoll, grupo proveniente dos Estados Unidos que atua em mais de 20 países. Há 1 ano e meio no Brasil, os norte-americanos atendem os presos individualmente, rezam com eles e ministram aulas de inglês. O casal relatou à reportagem que a presença missionária faz a diferença na unidade prisional. “Nós percebemos que eles ficam mais tranquilos depois da nossa visita e oração. O ambiente fica diferente, as pessoas ficam menos tensas”, contou Marilyn.

James destacou que a realidade do cárcere deixa os presidiários carentes de contato humano. “Às vezes, basta que os chamemos pelo nome, apertemos suas mãos, coloquemos as mãos nos seus ombros para que eles se sintam valorizados”, disse.

Para o diretor geral do CDP 3, Ademir Muniz de França, a atuação da Pastoral Carcerária é de suma importância, porque “traz um conforto espiritual para esse povo que tanto carece de um apoio, pois todos estão distantes de seus familiares e entes queridos”.

Além das visitas aos presídios, é possível colaborar com a Pastoral Carcerária à distância. Há muitos voluntários que ajudam no atendimento aos presos por meio de correspondências. “Eles gostam muito de escrever, ainda mais quando pessoas de fora se dispõem a responder”, destacou Padre Valdir. Outra forma de ajudar é na acolhida nas comunidades dos egressos da prisão, assim como no acompanhamento seus familiares, especialmente seus filhos.

A Pastoral Carcerária também realiza uma campanha de doação de livros para os presos, com o objetivo de incentivar a leitura que possibilita a remição de dias de pena para cada obra lida pelo preso mediante a apresentação de uma resenha sobre o assunto do livro.