‘Jovens, Cristo conta com vocês!’

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O Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, que esteve na JMJ, convida os jovens a se organizarem para ida à Jornada em 2019, no Panamá.
Publicado em: 03/08/2016 - 11:30
Créditos: Redação com Jornal O SÃO PAULO

Redação
osaopaulo@uol.com.br


Concluída a Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, na Polônia, no domingo, 31, com a participação de aproximadamente 2 milhões de jovens, de 168 países, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, que esteve na JMJ, convida os jovens a se organizarem para ida à Jornada em 2019, no Panamá, e espera que quem esteve em Cracóvia dissemine as reflexões feitas pelo Papa Francisco. Nesta entrevista exclusiva ao O SÃO PAULO, Dom Odilo destaca os aspectos principais da JMJ 2016, recorda as catequeses que conduziu na Jornada, a participação dos brasileiros e fala da necessidade da prática da misericórdia cotidianamente. “As Jornadas mostram a face bonita e esperançosa de uma humanidade que sonha em viver em paz e fraternidade”. Abaixo segue a íntegra da entrevista.


O SÃO PAULO – Terminada a 31ª Jornada Mundial da Juventude, qual é a avaliação que pode ser feita?

Cardeal Odilo Pedro Scherer -  Foi um evento extraordinário pela participação de jovens, que passaram dos 2 milhões, vindos de 168 países diversos. O medo do terrorismo deixou preocupações no ar a respeito da segurança do evento e dos participantes, mas, graças a Deus, não aconteceu nada de ruim. O entusiasmo venceu o medo. O serviço de segurança da Polônia foi bom e eficiente. Participaram também numerosos padres (cerca de 2 mil), bispos (cerca de 1.600) e cardeais (25). Isso significa que os jovens são amados por seus pastores, que os acompanharam na Jornada. Chamou a atenção a presença de religiosos e religiosas jovens nas delegações juvenis. A cidade de Cracóvia preparou muito bem o evento e acolheu os participantes com generosidade e simpatia. O Papa estava muito à vontade com os jovens. O fato de ser em Cracóvia, cidade de São João Paulo II, criador das Jornadas, deu um toque muito especial a esta JMJ.

Como foi a participação dos brasileiros nesta Jornada?

Os jovens brasileiros foram o 3º grupo mais numeroso, depois apenas da Polônia e da Itália. Apesar da crise econômica, da distância e dos custos altos, aproximadamente 13 mil jovens do Brasil participaram da Jornada. Só da Arquidiocese de São Paulo, foram mais de 400. Sua presença pelas ruas da cidade e nos eventos era sempre notada; a bandeira verde-amarela estava por toda parte. A Jornada do Rio foi recordada em diversos momentos e muitos bispos, que encontrei, referiram-se às boas lembranças que guardam da Jornada no Brasil.
A misericórdia foi o tema central das catequeses. Qual foi a percepção dos jovens para vivenciá-la no dia a dia?
Para muitos, o tema parecia ser algo novo. Percebi, sobretudo, que nem sempre há clareza sobre o verdadeiro significado da misericórdia. A acolhida das catequeses foi muito boa e a percepção de que temos necessidade da misericórdia de Deus não foi difícil. Mais difícil para os jovens, e não só para eles, é combinar a misericórdia, a justiça e a ética. Pareceria que a prática da misericórdia dispensa a justiça e até passa por cima da ética: como usar de misericórdia com quem nos faz o mal? Como usar de misericórdia, em vez da justiça, nos casos de desonestidade, violência e injustiça social? É claro que a misericórdia não dispensa a justiça, que é necessária. Mas quem é credor de justiça pode ir além da mera justiça e, uma vez que esta foi satisfeita, pode usar de misericórdia para favorecer a recuperação de quem foi injusto ou violento. A misericórdia não dispensa a justiça, mas vai além dela.

Nas catequeses foram recordados os santos da misericórdia?
Sim, e também no encontro do Papa com os jovens. Os santos da misericórdia nos acompanham neste Jubileu da Misericórdia e nos estimulam a fazer como eles fizeram... O nome do jovem santo Piergiorgio Frassatti (1901-1925) foi muito lembrado, e também o de Madre Teresa e da Beata Irmã Dulce dos Pobres.

Durante a Jornada, foi distribuído aos jovens o Catecismo da Doutrina Social. Que texto é esse?
É o Catecismo da Doutrina Social da Igreja, em inglês (DOCAT – What to do? = O que fazer?). Em breve, esse texto, que explica de maneira fácil aos jovens os princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja, estará traduzido e disponível em mais de 30 línguas, entre as quais o português. Mas, desde agora, o texto inglês já pode ser baixado pela internet. Será mais um subsídio precioso para a formação dos jovens cristãos e católicos.

A próxima Jornada será em 2019, no Panamá. Que perspectivas se abrem?
Em 2019, a Jornada será realizada no Panamá e será mais uma ocasião para muitos jovens brasileiros participarem desse evento de valor extraordinário. Seria bom estimular os jovens, desde logo, a participarem da Jornada no Panamá, inclusive a promoverem iniciativas para recolher o dinheiro necessário para cobrir os custos de viagem e inscrição. O tema ainda será definido pelo Papa, depois que a Congregação para os Leigos fizer suas pesquisas e propostas.

À luz das reflexões do Papa, que perspectivas se abrem para a Pastoral da Juventude?
Creio que as Jornadas da Juventude são sempre muito motivadoras. Penso que as reflexões do Papa aos jovens poderiam ser retomadas com os jovens das nossas comunidades. Além disso, fica um estímulo para nós, padres e bispos: é preciso acreditar nos jovens e dedicar tempo e atenção a eles. A resposta deles será generosa. E não se deve ter medo de falar com franqueza dos temas que lhes dizem respeito, como fez o Papa; acima de tudo, é preciso lhes propor o encontro com Jesus Cristo, que transforma a vida dos jovens.

Qual é a mensagem central que o Papa deixou aos jovens?
A mensagem central diz respeito à misericórdia, experimentada e praticada. Nem podia ser diferente, uma vez que era esse mesmo o tema da Jornada: “bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. O Papa encorajou os jovens a acolherem de coração aberto a misericórdia de Deus, a serem generosos na prática da misericórdia e a não se acomodarem aos modelos de vida, que não contam com a misericórdia.

Qual pode ser o significado social e político das Jornadas da Juventude?
Eu penso que a mensagem das Jornadas é importante e bela para o mundo e isso mereceria uma reflexão especial. Veja: em tempos de várias guerras, de atos de terrorismo, de ódios raciais e discriminações de todo o tipo, reúnem-se pacificamente 2 milhões de jovens e não acontece qualquer ato de violência ou constrangimento. O que explica isso? Como entender que jovens de povos em guerra participem juntos, rezem, cantem e se abracem como irmãos? As Jornadas mostram a face bonita e esperançosa de uma humanidade que sonha em viver em paz e fraternidade. A variedade de 168 bandeiras, de todas as raças, etnias, cores, culturas e línguas do mundo, todas unidas numa grande confraternização, cheia de conteúdo e sentido... é algo muito bonito e cheio de esperança para o futuro da humanidade. E tudo isso em nome de Cristo e sob a guia da Igreja. De fato, é missão da Igreja ser um sinal da humanidade redimida e que vive no amor.

Entrevista publicada no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3113 - 3 a 9 de agosto de 2016