Jornada da Juventude: os jovens querem a paz

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27/07/2016 - 09:45

Em Cracóvia, na Polônia, acontece a 31ª Jornada Mundial da Juventude. Os jovens chegaram de todos os cantos do mundo, alegres e ruidosos, com as manifestações multicoloridas de suas raças e culturas. Enchem as ruas da antiga, culta e simpática Cracóvia, que os acolhe de braços abertos e se enche de vida.

Os jovens vieram para cá como peregrinos em busca do Deus da misericórdia, guiados pelo tema da Jornada – “felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. E peregrinam pelas igrejas e santuários, participam das catequeses sobre o tema, atravessam com emoção a “porta santa da misericórdia” - do santuário da “Divina Misericórdia” -, onde Santa Faustina falou ao mundo de suas experiências e compreensões da misericórdia infinita de Deus.

Grupos entram e saem das estações, enchem as ruas com suas bandeiras, cantam ao som de violões, dançam e se abraçam nas praças, com quem nunca tinham visto antes, vindo sabe-se lá de qual país, sem falar a mesma língua... Crachá, boné da JMJ, mochila às costas, sorriso largo e brilho no olhar os identificam como parte de uma mesma multidão de peregrinos, que caminham na mesma direção... Não são caminheiros anônimos pela vida, mas irmãos de tantos que, como eles, “procuram a face de Deus”.

Dias atrás, ficamos estarrecidos diante do tiroteio com mortes em Munique, do ataque a machado num trem, do caminhão dirigido para cima da multidão em Nice, no sul da França, do ataque a uma casa de diversão em Orlando, nos EUA... Quase já esquecemos de falar dos atentados quase diários nas regiões de guerra no Oriente Médio e na África, onde a morte violenta de muitas pessoas nem sequer faz mais notícia. E, no Brasil, estamos apreensivos diante da possibilidade de atentados também durante os Jogos Olímpicos. Mas quem fala da violência nossa e cada dia, que causa mais mortes, ao longo de um ano, que nos países em guerra!?

Os fatos assustadores de ataques cometidos por indivíduos isolados ou por grupos organizados, com declaradas motivações políticas, ideológicas ou pseudo-religiosas, mereceriam uma séria reflexão da sociedade: O que está acontecendo? O que faz as pessoas se organizarem para realizar atos de violência contra pessoas inocentes e desprevenidas, de maneira dificilmente previsível? É a vontade de espalhar a anarquia e o terror pelo mundo? A vingança contra supostos inimigos? É a busca do poder? O desejo de mostrar força? O terrorismo, muitas vezes, não tem endereço claro, nem nação, nem raça, nem rosto... O Papa Francisco já se referiu a uma espécie da “3ª. guerra mundial, em andamento”, com características de “guerra global”.

O que leva a matar a esmo pessoas pelas ruas ou num mercado? Me parece que essa onda de terrorismo e violência é sintoma de uma época em profunda crise de identidade e de valores: movimentos fundamentalistas rejeitam a modernidade, que permeia tudo e todos os espaços do convívio humano; tentam mudar o rumo da história, expurgando pela violência os valores não compartilhados e atacando pessoas e símbolos desses valores. Estamos também diante de um vazio existencial, onde são muitas vezes rejeitados os valores básicos do convívio, como o respeito, a tolerância, a solidariedade, a justiça, tidos por alguns como superados.

A Jornada Mundial da Juventude acontece, justamente, em tempos de atentados e tragédias, causados pela discriminação, intolerância e ódio! E tantos jovens aderiram à Jornada, deixando o medo em casa, pondo-se em marcha para encontrar outros jovens, para ouvir o Papa Francisco, a Igreja. O que dizem esses jovens ao mundo?

Eles querem um mundo sem violência e acreditam que isso é possível. Eles são o rosto esperançoso de uma humanidade, de uma grande família de irmãos, unida pela busca comum do rosto de Deus e guiada por valores genuínos e construtivos. Querem viver, e vivem e em paz uns com os outros. Eles fazem a experiência de uma “nova humanidade”, que eles querem construir, desde agora.

Eles acreditam no Deus da misericórdia, em cujas mãos confiam sua própria fragilidade e a de seus irmãos; e acreditam que a prática das obras misericórdia é remédio contra a violência, enche a vida de sentido e torna o coração sensível e bom diante do próximo. Um coração assim jamais irá se entregar à violência. Os jovens em Cracóvia são a imagem da humanidade reconciliada no amor.

 Cardeal Odilo Pedro Scherer

Arcebispo metropolitano de São Paulo