Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho

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9º Bispo Diocesano (1862-1868)

Lema: IN OMNIBVS CARITAS “Em tudo a caridade”

BIOGRAFIA

Nascido em 16 de abril de 1802, na vila de Angra dos Reis, então capitania do Rio de Janeiro. Filho do casal Sebastião Pinto do Rego e Francisca do Espírito Santo.



PRESBITERADO

Ordenado sacerdote em 25 de julho de 1850, contando 23 anos de idade, pelas mãos de dom Frei João da Purificação Marques Perdigão, na capela do palácio da Soledade, no Pernambuco. Não obteve outros títulos acadêmicos além da teologia. Pouco tempo depois, foi nomeado para a paróquia de sua cidade natal, onde concomitantemente ao ministério, exerceu a função de professor e secretário do bispado de Fortaleza. Nas eleições de 1856, conseguiu uma vaga de deputado na Assembleia Provincial, pelo partido Conservador. Procurava ser exemplar no ministério, tanto como pároco como secretário do bispo de Fortaleza, por meio do respeito às autoridades constituídas. Isso lhe valeu a admiração de seu bispo ordenante – mais tarde bispo de sua província e diocese do Ceará, o indicou ao imperador para o cargo de bispo de São Paulo.



EPISCOPADO

Dom Lino Deodato foi nomeado bispo em 21 de maio de 1871, por breve apostólico do Papa Pio IX, tendo sido confirmada no Consistório secreto de 28 de julho de 1872. Com dom Lino, cessou a apresentação governamental às dignidades eclesiásticas. O novo bispo foi sagrado na Catedral de Fortaleza no dia 09 de março de 1873, sendo sagrante dom Luís dos Santos. Após sua sagração, tomou posse por seu procurador, o cônego doutor Joaquim Manoel Gonçalves de Andrade, tendo realizado sua entrada solene na Antiga Sé no dia 29 de junho de 1873.

Empreendeu em 1876 uma viagem à Europa, percorrendo vários países. Nesta oportunidade, realiza uma visita Ad LiminaApostolorum, com o intuito de receber orientações pontifícias para a reforma da diocese de São Paulo, estreitando os laços com Roma. De início, o objetivo desta viagem era suprir a escassez de vocações sacerdotais.

Em seu longo governo (1873-1894), os padres capuchinhos de Saboia deixaram o Seminário Episcopal, que por eles era dirigido e administrado desde a fundação em 1856. Em 07 de junho de 1877, nomeou para aquela instituição diocesana o padre João Evangelista Braga, afirmando: “Falta de pessoal para o serviço na diocese, falta que se vai agravando de dia em dia pela escassez de vocações para o sacerdócio, como é sabido”.

Entre seus feitos pode ser destacado o lançamento da pedra fundamental do Asilo de Mendicidade, no alto da Bela Vista, em terreno doado pelo doutor Fernando de Albuquerque. Em 03 de agosto de 1887,cria uma Caixa Auxiliadora da Redenção aos Cativos. Em regozijo, a população paulistana faz-lhe imponente manifestação abolicionista. O bispo já vinha se pronunciado sobre a redenção dos escravos desde 1867.

No mesmo ano de 1887, fundou em São Paulo uma escola agrícola sob a direção dos religiosos Trapistas, com o intuito de ministrarem a população carente da cidade, conhecimentos de agricultura. Adquiriu para tal uma propriedade rural e solicitou ao Império 30 passagens marítimas para transportar os religiosos para o Brasil e a isenção de impostos sobre máquinas agrícolas e animais, que se destinassem ao funcionamento da escola.

Entre os dias 22 e 25 de janeiro de 1888, o bispo promoveu o sínodo diocesano, o qual contou com a presença do clero, mas não chegou a ser publicado. No sínodo, dom Lino Deodato delineou suas propostas para a Igreja diocesana de São Paulo, pautando suas orientações na formação de um clero celibatário e voltado às atividades religiosas, em conformidade com o que recomendava Pio IX. Os padres foram retirados da política para serem colocados dentro da missão a eles confiada: a cura de almas, no sentido estritamente espiritual.

Coube ao bispo reconstruir o Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e abençoa-lo em 06 de dezembro de 1888. Dom Lino, também, elevou o Seminário Central para Seminário Episcopal.

Deu-se em São Paulo, em 1890, a Conferência do Episcopado Brasileiro, proposta pelo internúncio apostólico, monsenhor Francesco Spolverini. Aos 20 de agosto, foram encerradas com um brilhante e imponente Te Deum, presidido pelo arcebispo primaz eleito da Bahia, dom Antônio de Macedo Costa.

Parte do episcopado de dom Lino em São Paulo transcorreu em período republicano, no qual as indicações para os cargos eclesiásticos por parte do governo cessaram em razão da separação entre Igreja e Estado em 1891. Neste período, foi resolvida judicialmente a pendência entre Igreja e Estado, por haver o Governo mandado demolir a Igreja do Colégio dos Jesuítas, como se fosse uma propriedade nacional. Obteve ganho de causa, recebendo a Mitra Diocesana a importância de duzentos e cinquenta e três contos de réis, quantia esta aplicada na construção da igreja do Imaculado Coração de Maria, anexa a residência dos padres Missionários.

Em outro episódio, dom Lino Deodato lutou bravamente contra o Estado, tendo em vista que Sua Majestade dom Pedro II, havia estabelecido que o produto das loterias serviria de auxílio para a construção da Catedral e com o advento da República, o então presidente, doutor Prudente de Morais, determinou que a quantia arrecadada (200:000$000) e depositada no Tesouro Estadual, fosse destinado a construção de uma escola normal, já que o Estado estava separado da Igreja. Os esforços do bispo em demonstrar a ilegalidade daqueles atos foram em vão.

Considerando sua idade e as doenças que o acometiam, solicitou ao Santo Padre um bispo coadjutor, com direito a sucessão. Em 16 de fevereiro de 1893, foi nomeado dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.

Escreveu 21 cartas pastorais e inúmeras cartas circulares. Ao longo de seu episcopado, ordenou 70 sacerdotes. Era agraciado com os títulos de Assistente ao Sólio Pontifício, Prelado Doméstico de Sua Santidade e Conde Romano. Os biógrafos do seu tempo o definiam como homem modesto e simples desde seu tempo de pároco em São Bernardo das Russas; caridoso, manso e prudente, usando sempre de austeridade e benevolência. Era muito respeitado pelo imperador dom Pedro II.

Dom Lino visitou a diocese paulista pela última vez. Retirando-se para Aparecida para tratar de sua saúde, enfraquecido por problemas cardíacos, veio a falecer em 19 de agosto de 1894. Primeiramente, foi sepultado na Antiga Sé de São Paulo. Atualmente, seus restos mortais repousam na cripta da catedral da Sé, onde pode ser lido em sua lápide:


“SCIO.QVIA.MORTI.TRADES.Me
HONORABILIS.LINI.DEODADTI.RODRIGVES.DE.CARVALHO
MVNERE.LAVDABITER.FVNCITI.PAROECIALI
A.CEARENSI.CAELO.IN.PAVLOPOLITANVM.TRANSACTI
AD.MAIORA.AGENDA.EPISCOPATV.DIDATI
POST.OBTENDA.INTEGRAT.SANAQVE.POMA.IN.DOMINI.AGRO
XIV.KAL.SEOT.AN.MDCCCXCIV.APPARECIDAE.MORTVI
HEIC.CINERES.INVENIES” 1

1 Sei que me hás de entregar à morte. Aqui encontrarás as cinzas do respeitável varão Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, tendo com louvor exercido as funções de pároco, foi das terras do Ceará transferido para as de São Paulo, e, a fim de realizar obras maiores, promovido ao episcopado. Após obter grandes e saudáveis frutos na seara do Senhor, faleceu em Aparecida aos 19 de agosto de 1894.

Lema
IN OMNIBVS CARITAS
“Em tudo a caridade”

Descrição: Escudo eclesiástico. Em campo de blau um cálice de jalde e, em chefe, uma estrela de cinco pontas do mesmo, tendo, à dextra e à senestra, dois ramos de carvalho de sinopla. O escudo está assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de ouro, entre uma mitra de prata adornada de ouro, à dextra, e de um báculo do mesmo, à senestra, para onde se acha voltado. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por seis borlas cada um, tudo de verde. Brocante sob a ponta da cruz um listel de blau com a legenda: IN OMNIBVS CARITAS, em letras de jalde.

Interpretação: O escudo obedece às regras heráldicas para os eclesiásticos. O campo azul é retirado das armas familiares do bispo – Carvalhos – bem como a estrela, que foi modificada de oito para cinco raios. O campo de blau (azul) representa o manto de Maria Santíssima e, heraldicamente, significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza. A Estrela lembra a Virgem Maria, “Estrela da Manhã” e ”Aurora da Salvação” e, pelo seu metal jalde (ouro) simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. O Cálice lembra o santo sacrifício da missa, no qual o vinho é transubstanciado no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e o seu metal jalde (ouro) temo significado acima descrito. Por fim, os ramos de carvalho lembram o nome de família do bispo e seu ânimo forte para governar a diocese, sendo de sinopla (verde) representam: esperança, liberdade, abundância, cortesia e amizade. O lema: “Em tudo a caridade”, foi tirado da máxima de Santo Agostinho: "In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas” ( No imprescindível, unidade;na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade).