Dom Angélico: ‘Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns, não está morto, está vivo!’

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O bispo emérito de Blumenau (SC) presidiu a missa das 10h em sufrágio da alma do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns
Publicado em: 15/12/2016 - 15:00
Créditos: Redação

A fila de pessoas para uma última homenagem ao Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que morreu na quarta-feira, 14, aos 95 anos, se manteve ininterrupta durante toda a manhã desta quinta-feira, 15, na Catedral da Sé.

Às 10h, teve início mais uma das 23 missas de corpo presente, presidida por Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito Blumenau (SC) e que foi bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo no episcopado de Dom Paulo.

Dom Angélico falou aos jornalistas da Arquidiocese de São Paulo antes do início da celebração e recordou que a vida de Dom Paulo “foi com os pobres, os marginalizados, os injustiçados”.

Na homilia da missa, da qual concelebraram mais de 30 padres, Dom Angélico desceu e ficou próximo ao caixão de Dom Paulo. “Eu quero falar com vocês aí bem pertinho, como Dom Paulo gostava de fazer. Quero lhes dar uma notícia que pode parecer mentira, mas é verdadeira: Dom Paulo Evaristo, Cardeal Arns, não está morto, está vivo!”. Neste momento, Dom Angélico foi interrompido por uma grande salva de palmas, do povo que, visivelmente emocionado, acompanhava as palavras do presidente da celebração com muita atenção.

Dom Angélico recordou o dia em que foi ordenado bispo por Dom Paulo, em 25 de janeiro de 1975 e outros momentos fortes na Catedral da Sé como o Ato Ecumênico após a morte do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. E falou ainda sobre os grandes problemas sociais de hoje e o sofrimento dos mais pobres, que nem sempre são contemplados pelas políticas econômicas dos governos.

Durante a homilia, uma senhora idosa aproximou-se do caixão e foi, imediatamente acolhida e abraçada por Dom Angélico a ali permaneceu até o momento seguinte da celebração.  

Vieram para as exéquias muitos grupos, instituições e comunidades fundadas ou acompanhadas pelo Cardeal Arns. Uma delas foi o Amparo Maternal, representado pelas Irmãs Anita Gomes e Rosina Azevedo, da Congregação das Irmãs Vicentinas, que ajudaram na estruturação da instituição quando ela ainda estava no início. “Lembro-me que Dom Paulo chamou um grupo de seminaristas para pintar os cômodos e sempre recebia doações do exterior, que direcionava para a instituição”, contou Irmã Anita.

Um grupo de gestantes e mães com seus bebês também estiveram na Catedral, entre elas uma refugiada. “Desde o início, já foram realizados mais de 900 mil partos no Amparo”, informou Marlene Novaes, que é assistente social há mais de 26 anos na instituição.

 

Dom José Roberto: ‘Ele foi a voz daqueles que não têm voz’

Anteriormente à missa presidida por Dom Angélico, Dom José Roberto Fortes Palau, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, presidiu a missa das 8h, também com intensa participação de fiéis.

“Dom Paulo foi sempre um pastor, símbolo da fidelidade da Palavra de Cristo, um profundo conhecedor da Palavra de Deus, dos ensinamentos da Igreja. Falava com muita sabedoria, tornou-se um verdadeiro ícone da defesa dos desemparados e perseguidos, voz daqueles que não têm voz, jamais faltou-se o compromisso com as comunidades da Arquidiocese de São Paulo”, destacou Dom José Roberto na homilia.

Ainda segundo o Bispo auxiliar, Dom Paulo encontrava na prática de Jesus, uma motivação fundante para sua predileção pelos pobres, pelos desemparados. “Jesus não foi indiferente às necessidades dos mais fracos, dos mais necessitados, das vítimas da injustiça. Em todos os momentos, Jesus revelou a sua caridade aos mais pobres e miseráveis. Àqueles que mais precisam do carinho do pastor, do amor do pastor, Dom Paulo foi um pastor de coração misericordioso, pastor de coração sempre atento dos mais abandonados”, afirmou.

Por fim, Dom José Roberto destacou que os ensinamentos de Dom Paulo devem sempre ser levados em conta. “Dom Paulo parte para o céu, nos deixa, mas nós não perdemos nem um de seus ensinamentos, de suas lições, certamente a maior herança que deixa de sua vida de seu seguimento em Cristo, é seu testemunho em Cristo, o amor ao próximo, a caridade, mas hoje também, celebrando a páscoa de Dom Paulo Evaristo Arns, nós também somos convidados a reencontrar a nossa fé na ressurreição”.

 

(Redação: Nayá Fernandes, com colaboração de Milena Guimarães e edição de Daniel Gomes)