Católicos invocam Espírito Santo sobre a cidade de São Paulo

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Vigília de Pentecostes reúne movimentos, novas comunidades e pastorais no Vale do Anhangabaú
Publicado em: 14/06/2019 - 12:00
Créditos: Fernando Geronazzo

Quem passou pelo Vale do Anhangabaú entre a noite do sábado, 8, e o domingo, 9, deparou-se com uma cena incomum para o Centro da Capital Paulista. Com orações, cantos e testemunhos de fé, milhares de católicos celebravam a vinda do Espírito Santo, na Vigília de Pentecostes da Arquidiocese de São Paulo. 
No grande palco montado no local, cantores católicos, sacerdotes e pregadores conduziram o evento, organizado pelos movimentos e novas comunidades atuantes na Arquidiocese. Nem mesmo o frio espantou as cerca de 10 mil pessoas que passaram pelo evento ao longo das 18 horas de programação. 
A atividade foi aberta às 18h, no sábado, com uma missa presidida pelo Padre Marcos Roberto Pires. Às 21h, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu o rito da Vigília de Pentecostes, no qual foi invocado o Espírito Santo sobre a cidade. Dom Odilo também presidiu a missa da Solenidade de Pentecostes na manhã do domingo. 
A estrutura do evento contou, ainda, com uma tenda em que o Santíssimo Sacramento ficou exposto, durante toda a noite para a adoração, e uma tenda de confissões, com inúmeros padres se revezando para atender a grande fila de pessoas que buscaram o sacramento da Reconciliação. As atrações musicais que animaram a Vigília foram o grupo Missionário Shalom, Adriana Arydes, Diego Fernandes, Dunga, Banda Dominus, Eros Biondini, Ministério Aliança e Comunidade Eucaristós.
Também aconteceu uma feira vocacional, na qual os diferentes movimentos, novas comunidades e organizações eclesiais apresentaram seus carismas e missões. 

ORAÇÃO PELA CIDADE
 “Divino Espírito Santo, olhai por toda a nossa cidade de São Paulo. Olhai para todos os que sofrem, consolai-os, confortai-os. Enviai-nos para junto dessas pessoas, doentes, pobres, prisioneiros, abandonados, excluídos, os que vivem nas periferias. Ajudai-nos, como Igreja nesta cidade, a sermos testemunhas do Pai, do Filho e da vossa ação”, pediu Dom Odilo, em uma oração espontânea feita durante o rito de invocação do Espírito Santo sobre a Capital. 

ACOLHIDO COMO FILHO
Durante o rito da Vigília, houve um momento de testemunhos sobre a ação do Espírito Santo na vida das pessoas. 
O jovem Lucas Borri Ferreira, 28, compartilhou que frequentou a Igreja com sua mãe durante a infância. Na adolescência, optou por um caminho distante da fé. Aos 14 anos de idade, conheceu a cocaína. “No início, era só uma brincadeira, usava de vez em quando. Quando eu menos esperava, porém lancei-me de cabeça no mundo das drogas. Eu vi minha família se destruir por minha causa.”
A família de Lucas buscou vários tratamentos para tentar libertá-lo das drogas. “Depois da minha sétima internação, quando já não aguentava mais viver, minha mãe me levou à Igreja. Lá, eu fui acolhido como filho. A Igreja Católica me ajudou a fazer esse caminho de recuperação.”

CHAMADO DE DEUS
Padre Rodrigo Moraes Pereira, da Comunidade Aliança de Misericórdia, compartilhou o caminho de conversão que o levou de volta para a Igreja, após um longo período distante. Cantor de pagode na noite, ele afirmou que, na busca de uma realização pessoal, fez inúmeras coisas das quais hoje se arrepende. “Era uma busca insaciável por prazer e um grande vazio existencial. Eu já trazia dentro de mim uma inquietação, uma angústia muito grande”, acrescentou. 
A vida do jovem Rodrigo mudou quando, um dia, passando em frente a uma igreja, viu um momento de oração no qual invocavam o Espírito Santo. Nessa ocasião, ele sentiu um profundo chamado para uma vida nova com Deus. “Então eu disse: ‘A partir de hoje, a minha vida será conduzida pelo Espírito Santo de Deus’”, afirmou. 
Depois desse episódio, Rodrigo ingressou na Comunidade Aliança de Misericórdia e lá discerniu sua vocação para o sacerdócio, tendo sido ordenado em 2017. 

SALVO PELO MATRIMÔNIO
Casados há 23 anos, Alessandro Rodrigues Passos Silva, 42, e Bárbara Juliana Santana Rodrigues Passos, 43, deram testemunho da transformação que viveram em sua família, graças à ação do Espírito Santo. 
“Éramos um casal que tinha tudo para não dar certo. Ela de família católica atuante na paróquia, eu, um homem perdido nos vícios. Quando nos casamos, muitas pessoas não acreditavam que teríamos um futuro juntos, nem mesmo eu acreditava”, disse Alessandro.
A vida do casal começou a mudar quando Alessandro foi apresentado à Igreja Católica. “Há 19 anos, tive um encontro pessoal com Deus por meio da Igreja e dos sacramentos. Eu pude experimentar a ação do Espírito Santo, que transformou a nossa história”, relatou. 
Hoje, com três filhos, Alessandro foi enfático ao afirmar: “O Senhor salvou a minha vida pelo meu Matrimônio... Hoje, eu posso olhar para a minha vida e dizer que o Senhor, por meio de sua Igreja, salvou a mim e a minha casa”.
 
CONVERSÃO
Ao longo da Vigília, os sacerdotes e missionários foram testemunhas de várias histórias de conversão de pessoas que passavam por acaso pelo Vale do Anhangabaú ou que foram ao evento com más intenções. 
Uma das histórias que marcou os organizadores foi a do rapaz que se identificou como Marco Augusto. Alcoólatra e ex-usuário de drogas, como maconha, cocaína e crack, ele relatou a um dos missionários que foi ao evento com a intenção de praticar roubos no local. No entanto, ao ouvir as orações e pregações, sentiu-se tocado por Deus. 
“Eu me emocionei muito, comecei a chorar e pedia a Deus que me libertasse. Sofro muito por causa do alcoolismo. Perdi minha mulher e minhas duas filhas, de 19 e 13 anos, por causa do meu vício”, contou Marco.
Apesar de todo o sofrimento, Marco destacou que seus pais nunca o abandonaram, o ajudaram e impediram que o pior acontecesse em sua vida. “Portanto, pais, nunca desistam de seus filhos, deem valor à família e a Deus. Sem Deus, eu não sou nada”, testemunhou o rapaz. 

INÍCIO DE UMA TRADIÇÃO
O Cardeal Scherer manifestou sua alegria pela realização da Vigília e desejou que se torne uma tradição na Arquidiocese de São Paulo. Também agradeceu a todos os que acolheram, com coragem e entusiasmo, o convite feito por ele. “A Vigília de Pentecostes é uma tradição muito antiga da Igreja. Nós sonhávamos fazer uma grande Vigília na cidade e conseguimos concretizar esse sonho”, acrescentou.
O prefeito Bruno Covas e o vereador Caio Miranda estiveram entre as autoridades presentes no evento.
Para Julio Neto, um dos organizadores, os testemunhos das pessoas que tiveram uma profunda experiência com Deus durante a Vigília mostram que, como diz o tema do evento, “Deus habita esta cidade: somos suas testemunhas”. 

Luciney Martins / O SÃO PAULO