Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo fala sobre Dom Paulo

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Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador recorda sua amizade com o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns
Publicado em: 16/12/2016 - 09:15
Créditos: Redação

Em correspondência enviada ao Cardeal  Odilo Pedro Scherer, na quinta-feira (15),  o Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador recorda sua amizade com o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.

Leia abaixo o comunicado:

"Conheci Dom Paulo quando foi nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo. Logo depois fui estudar em Roma de 1967 à 1969.

Em 1970 retornando de Roma após os estudos sobre Liturgia no Pontifício Ateneu Santo Anselmo, Dom Paulo já era o Arcebispo. Logo me nomeou Coord. de Pastoral da Arquidiocese, Professor de Sacramentaria no Instituo de Teologia   Pio XI, Seminário Maior João XXIII e Fac. De Teologia N. Sra. da Assunção e diretor da mesma Faculdade até 1978 quando fui nomeado Bispo de Toledo no Paraná.

Naquele tempo, que fui Coordenador de Pastoral e também membro do Cabido Metropolitano, tinha uma convivência muito próxima com Dom Paulo. Participava sempre das reuniões com ele, uma vez por semana nos encontrávamos para tratar dos diversos assuntos referentes a Pastoral em geral. Com frequência saímos ainda cedo de casa para visitar os Sacerdotes. Chegávamos de surpresa, eu deixava Dom Paulo com o Padre para ficarem bem a vontade. Ele procurava saber como ele estava, gostava de conhecer a casa, as instalações, como ele vivia, as vezes olhava até a geladeira. Se chegasse a hora do almoço, almoçávamos com ele. Era muito bom, criava uma comunhão maior com o sacerdote, ele se sentia mais amigo, mais próximo.

Dom Paulo foi um grande Pastor, sempre voltado para os mais carentes e necessitados, defensor dos Direitos Humanos, criou a Comissão de Justiça e Paz. Esteve muito presente nas diversas situações politica e econômica de São Paulo.

Era respeitado mesmo por aqueles que não professavam a mesma fé.  

Ele tinha um bom relacionamento não só com os Bispos Auxiliares, mas também com o Regional. Gostava de trocar ideias com os Bispos Auxiliares e também os da Província.

Muitas vezes acompanhei Dom Paulo a encontros com autoridades. Durante a ditadura eu participei muito da vida de Dom Paulo, ele era corajoso, enfrentava autoridades em defesa dos perseguidos e ameaçados. Ele sempre dizia aos Padres, Vocês nunca façam denuncia de ouvir falar, mas faça com dados concretos. Lugar, hora, nomes.

Foi um tempo difícil, mas muito rico em amadurecimento espiritual. Dom Paulo era muito pontual nos horários como bom descendente de alemão. Era metódico, organizado, preciso e determinado.

Ele foi o mediador entre o presidente do Unicef e a Igreja no Brasil para a implantação da Pastoral da Criança. Em uma reunião em Genebra foi feita a proposta a Dom Paulo de uma experiência nova de reidratação oral com soro caseiro para diminuir a mortalidade infantil no Brasil. Ele disse que para uma experiência piloto seria bom uma Diocese menor, e pensou na Arquidiocese de Londrina porque me conhecia e eu estava para assumi-La como segundo Arcebispo. Na ocasião não se falava de Pastoral, mas sim uma ação de saúde.  Para implantar esse trabalho precisava de uma pessoa da saúde, foi quando Dra. Zilda, irmã de Dom Paulo, se interessou pela proposta e foi liberada pela Secretaria de Saúde do Estado do Paraná para assumir o trabalho e implementar com as demais ações. Eu achei que era o caso de criarmos uma Pastoral com espiritualidade própria. Como era um trabalho com voluntariado e empenhativo era necessário uma espiritualidade para motivar e sustentar a liderança. Assim nasceu a Pastoral da Criança.

Dom Paulo era verdadeiramente um homem de Deus, vivia a espiritualidade Franciscana. Ele certamente chegou com as mãos cheias de boas obras, realizadas em favor dos pequenos e indefesos diante de Deus. Deus o recompense eternamente!

 No 06 de agosto de 1978, fui Ordenado Bispo, festa da Transfiguração do Senhor, por Dom Paulo Evaristo Arns"