Renovação missionária da Arquidiocese

A A
04/09/2019 - 11:45

Com a conclusão das assembleias regionais, o sínodo arquidiocesano completa o seu segundo ano de trabalhos. Até aqui, o caminho sinodal está ajudando a “ver-ouvir” e a tomar consciência da situação religiosa e pastoral da Arquidiocese de São Paulo nos mais diversos aspectos, seguindo o tema do sínodo – “Caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” da Igreja particular de São Paulo.

Graças a Deus, há muita vitalidade nesta Arquidiocese. Ao mesmo tempo, o processo do “ver-ouvir” revelou muitas lacunas e deficiências na evangelização, que precisam ser superadas. Foi constatada uma reduzida adesão efetiva à Igreja, como se percebe na pouca participação nas celebrações dominicais, na redução preocupante dos neobatizados, dos casamentos religiosos e das crianças e adolescentes nos grupos de catequese. Existe um sentimento religioso católico difuso, mas com pouco esclarecimento e pouca firmeza, o que denota a carência de formação na fé e na vida cristã. Os processos evangelizadores nas comunidades reduzem-se, muitas vezes, a algum atendimento de quem procura a Igreja, sem haver expressões significativas de ação missionária para ir à procura dos católicos distantes ou desligados da fé. Mesmo a adesão a questões centrais da fé católica começa a mostrar deficiências preocupantes.

As mudanças culturais, sociais e religiosas do nosso tempo demandam novas atitudes na evangelização e um renovado dinamismo missionário. Há um sério déficit no processo de transmissão da fé, quer na primeira iniciação à vida cristã, quer nos processos catequéticos de aprofundamento e perseverança na fé, na vida cristã e na participação na vida da Igreja. Faz-se necessária maior atenção à formação doutrinal e moral do povo católico, assim como à formação dos agentes de pastoral.

A maior urgência que o processo de “ver-ouvir” detectou na Arquidiocese é a conversão pastoral e missionária. Retomando o que o Papa Francisco diz na Exortação Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual (cf. nº 20), não podemos nos restringir a uma pastoral de mera conservação, mas devemos prestar atenção aos imensos desafios missionários da Igreja, perto e longe de nós. O que Deus pede é um novo dinamismo de “saída missionária”. Sem isso, a Igreja vai perdendo vitalidade, não alcança as novas gerações e as realidades humanas que precisam ser permeadas com o fermento, a luz e o sal do Evangelho do Reino de Deus.

A “alegria do Evangelho” é uma alegria missionária, que leva os discípulos de Cristo, imbuídos por ela, a se lançar com generosidade e coragem aos muitos e amplos espaços da missão. Isso supõe mudança de atitude nos agentes de pastoral, uma verdadeira “conversão pastoral e missionária”. Essa conversão é motivada pela fé e pela consciência do dom precioso que recebemos e no qual cremos, que não pode ficar escondido ou retido só para nós. Grandes alegrias precisam ser comunicadas a fim de contagiar também os outros. “Espero que todas as comunidades se esforcem por encontrar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária, para não deixar as coisas como estão. Neste momento, não nos basta uma simples administração. Ponhamo-nos “‘em estado permanente de missão’ em todas as regiões da terra”, afirma ainda o Papa (EG, 25).

São Paulo VI já havia escrito na Encíclica Ecclesiam Suam (1964) que “a Igreja deve aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre seu próprio mistério (...). Desta consciência esclarecida e operante deriva espontaneamente o desejo de comparar a imagem ideal da Igreja, tal como Cristo a viu, quis e amou (...), com o rosto real que a Igreja apresenta hoje. E daí decorre a necessidade generosa e quase impaciente de renovação, isto é, de emenda dos defeitos que aquela consciência denuncia e rejeita” (nos 10-12).
Aproxima-se o “Outubro Missionário Extraordinário”, desejado fortemente pelo Papa Francisco para toda a Igreja. É tempo de preparar esse momento como uma espécie de ensaio daquilo que as comunidades, paróquias e todas as organizações eclesiais de nossa Arquidiocese se propõem como “Igreja em saída e em missão permanente”.

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 04/09/2019