Quantos vão à Missa?

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19/06/2019 - 10:15

A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nos convida a voltar o nosso olhar para o mistério da Eucaristia, que está no centro da vida da Igreja e da vida cristã. O “sublime Sacramento” é o sinal permanente da presença de Nosso Salvador conosco nos sinais do pão e do vinho consagrados, quer durante a celebração da Missa, quer fora dela.

A Igreja faz a Eucaristia, mas é também a Eucaristia que faz a Igreja. A comunidade eucarística é a representação visível do mistério da Igreja: é Jesus Cristo que nos reúne em torno do altar e preside a comunidade celebrante, na pessoa do sacerdote. É Ele que a instrui com a sua Palavra, lida e proclamada na Missa. É Ele quem leva nossa adoração, preces, súplicas e louvores a Deus Pai, sendo nosso mediador e intercessor. É ainda Ele que continua a nos dizer: é meu corpo doado por vós, tomai e comei; é meu sangue derramado por vós, tomai e bebei. E se oferece ao Pai e se entrega a nós como Cordeiro Pascal, que tira o pecado do mundo. E se reparte como Pão da Vida para termos parte com Ele, comunhão e alimento no caminho da fé. É Ele, finalmente, que continua a nos enviar em missão para colocarmos em prática as lições da Eucaristia no testemunho diário da vida cristã.

Se a Missa é tudo isso, então ela deveria ser o centro das nossas comunidades eclesiais e da vida cristã de cada católico. E é isso que a Igreja recomenda. Infelizmente, porém, não é o que acontece. A pesquisa de campo, realizada em 2018 para o nosso sínodo arquidiocesano, mostrou o quanto necessitamos retomar a participação na Missa dominical. A constatação é que apenas cerca de 5% dos católicos de São Paulo frequentam regularmente a Missa todos os domingos. Outros 25% a frequentam de vez em quando, nas grandes festas ou em alguma ocasião especial, como formaturas, falecimentos e casamentos. Portanto, cerca de 30% dos católicos de São Paulo frequentam a Missa. Menos do que mais. E os outros 70% dos católicos de São Paulo?

Ao mesmo tempo, a pesquisa revelou que a grande maioria dos católicos recebe sua formação religiosa por meio da participação na Missa dominical, quer presencialmente, quer por meio da transmissão da Missa pelos Meios de Comunicação Social. Revelou, também, que os católicos cultivam sua relação e vinculação com a Igreja, sobretudo através da participação na Missa. Isso é muito interessante e corresponde ao significado da própria celebração eucarística. Através dela, manifestamos que estamos na comunidade dos discípulos de Cristo, a Igreja, e caminhamos com ela, sem nos distanciarmos dela; e continuamos visivelmente unidos a Cristo, que está sacramentalmente na Igreja e age nela e por meio dela. Além disso, a participação na Missa também é um momento testemunhal importante: manifestamos publicamente nossa fé e adesão à Igreja.

Mas essa constatação também levanta uma séria preocupação em relação aos católicos que pouco ou nada frequentam a Missa dominical. E são a grande maioria! Por onde recebem eles o sustento e cultivo de sua fé, o alimento da Palavra de Deus, o testemunho dos irmãos e da Mãe Igreja, feita dos cristãos atualmente vivos e da “comunhão dos Santos”, que já morreram. Na Liturgia, beneficiamo-nos do testemunho dos irmãos e de todos os Santos, que são os grandes católicos e nos edificam e animam no caminho da fé. Portanto, a falta de participação frequente na Missa leva o fiel a se distanciar da Igreja, a sentir-se estranho a ela, a não mais ter parte com ela. O processo para o desligamento da Igreja e da perda da fé é quase inevitável.

A retomada da participação na Missa dominical é fundamental no “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” de nossa Igreja. Por isso, quem vai à Missa convide outros católicos que não o fazem a também participar da Missa. As crianças, jovens e adolescentes precisam, desde cedo, aprender a ir à Missa dominical e a descobrir o seu valor e significado. Há uma constatação geral, feita pela citada pesquisa, de que há poucas crianças e adolescentes nas Missas. Da parte dos sacerdotes, requer-se que as celebrações sejam feitas com esmero, no respeito das normas da Liturgia, destacando a “nobre simplicidade” dos ritos e ações celebrativas. Enfim, a Missa celebra um grande Mistério de Fé, que requer de todos fé e humildade sinceras.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 19/06/2019