No Pátio do Colégio, São Paulo recebeu a semente do Evangelho

A A
22/01/2020 - 16:45

No Pátio do Colégio, São Paulo recebeu a semente do Evangelho

 

No dia 25 de janeiro, festa da Conversão de São Paulo, a cidade de São Paulo, fundada nessa mesma data em 1554, comemora seu aniversário. O fato marcante que deu origem à comemoração e vale como referência oficial para a fundação de São Paulo, foi a missa celebrada na inauguração do colégio da missão de “São Paulo de Piratininga”, dos missionários Jesuítas.

A missa foi celebrada pelo padre Manoel de Paiva no local conhecido hoje como Pátio do Colégio e pequeno colégio fazia parte do trabalho missionário e educativo dos jesuítas. Entre esses missionários estavam Pe. Manuel da Nóbrega e o jovem noviço José de Anchieta, ainda não ordenado sacerdote.

Algumas questões merecem destaque no início da história da atual metrópole de São Paulo: a data escolhida, a missa celebrada na ocasião oficial da fundação de São Paulo e a inauguração de uma escola. A cidade nasceu num contexto missionário de diálogo cultural, religioso e educativo. A data escolhida, 25 de janeiro, foi a da festa litúrgica da conversão do apóstolo São Paulo, que deu o nome à missão e ao núcleo social, que viria a ser a cidade de São Paulo.

Lembrar esses fatos marcantes do início da cidade e da ação da Igreja em São Paulo ajuda a compreender a vocação desta Cidade e da Igreja que nela atua e vive, desde as suas origens. Somos uma cidade chamada ao diálogo aberto entre todos povos e vertentes culturais que a compõem. O encontro de povos e culturas, que nem sempre foi pacífico e conheceu seus períodos de embate e até intolerância, é essencial e enriquecedor para a convivência e o desenvolvimento cultural e humano. Oxalá nossa Metrópole imensa nunca se esqueça que seu progresso e riqueza econômica e cultural são devidos à contribuição de muitos povos e origens culturais, étnicas e sociais diversas. São Paulo tem vocação para ser uma cidade aberta e acolhedora para todos, de onde ninguém deve ser excluído.

E a Igreja que está em São Paulo há de recordar sempre a sua vocação missionária, mediante o testemunho de Jesus Cristo e de seu Evangelho, como proposta para dar um sentido alto à vida das pessoas e para iluminar o convívio social de todos os integrantes desta imensa comunidade humana. O anúncio do Evangelho, feito de muitos modos, é um bem para a Cidade, que nasceu do desejo de integrar a vida social, cultural, econômica e até política de indígenas e europeus a partir da visão sobrenatural da fé em Jesus Cristo. Embora fosse uma proposta boa para o convívio humano, essa proposta teve que enfrentar controvérsias desde os primórdios da fundação da Cidade, como foi no caso da escravização dos indígenas e a violência contra eles, às quais os missionários se opunham decididamente.

Estamos celebrando o primeiro sínodo arquidiocesano de São Paulo, perguntando-nos sobre quais devem ser as decisões mais importantes e urgentes a tomar para que a Igreja de Cristo continue a “testemunhar o Evangelho nesta Cidade imensa”. Durante o sínodo, fazemo-nos a mesma pergunta do apóstolo São Paulo no seu encontro decisivo com Cristo no caminho de Damasco: “que devo fazer, Senhor?” (At 22,10). E nos propomos, como Igreja em São Paulo, a percorrer um caminho de “comunhão, conversão e renovação missionária” para sermos fiéis à nossa missão em São Paulo.

Durante o ano de 2020, que já é o 4º ano do nosso caminho sinodal, a assembleia arquidiocesana deverá aprofundar a reflexão sobre a situação da cidade de São Paulo e sobre a realidade da Igreja que nela vive e atua. A assembleia arquidiocesana, já convocada em dezembro de 2019, será formada por numerosos membros, que representam todas as expressões da vida eclesial da Arquidiocese. Após ter tomado consciência mais clara sobre os desafios, lacunas e oportunidades da ação eclesial, a assembleia deverá preparar diretrizes e indicações para ação evangelizadora e pastoral desta “comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo”, que é a Arquidiocese de São Paulo.

Como “comunidade eclesial missionária” em São Paulo, olhamos com fé, confiança e alegria para os inícios da Igreja neste Metrópole. Entre seus fundadores, há um Santo: José de Anchieta. E temos o grande apóstolo missionário, São Paulo, como Padroeiro. Que eles e todos os Santos Padroeiros das nossas numerosas “comunidades eclesiais missionárias” nos inspirem e ajudem a realizarmos bem a parte da missão da Igreja que nos toca hoje nesta Cidade imensa, em que Deus habita.

 

Publicado em O SÃO PAULO, ed. 22 01 2020

 

Cardeal Odilo P. Scherer

Arcebispo de São Paulo