Sínodo reunido novamente

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30/09/2015 - 09:15

No domingo, 4 de outubro, o Papa Francisco celebrará a abertura da 14ª Assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos. Convido o leitor a me acompanhar, neste artigo, para clarear algumas ideias sobre o Sínodo e para acompanhar com mais proveito os trabalhos dessa importante reunião eclesial.

Afinal, o que é o Sínodo dos Bispos? É um grande organismo da Igreja Católica, instituído há 50 anos pelo Papa Paulo VI, no final do Concílio Vaticano II. O Sínodo devia continuar, de alguma forma, a bela experiência de comunhão e participação de todos os bispos, com o Papa, na responsabilidade pela vida e a missão da Igreja toda. Paulo VI dispôs que o Sínodo retomasse, de tempos em tempos, os grandes temas do Concílio e atualizasse suas reflexões; assim, o próprio Papa daria novas orientações sobre esses temas, contando com a participação do episcopado do mundo inteiro.

Um concílio não poderia ser facilmente reunido a cada poucos anos, pois precisaria reunir os bispos do mundo inteiro; mas um Sínodo, com menos participantes, pode ser reunido com certa frequência para refletir sobre as grandes questões que interessam a vida e a missão da Igreja. O Sínodo tem assembleias ordinárias a cada três anos; de vez em quando, acontece alguma assembleia extraordinária, como no ano passado (2014).

O Sínodo é um organismo consultivo, a não ser que o Papa lhe conceda competência decisória em alguma matéria específica. As assembleias do Sínodo recolhem uma ampla reflexão e oferecem indicações ao Papa sobre os temas em pauta. O Sucessor de Pedro, depois, emite um documento, chamado “Exortação Apostólica Pós-Sinodal”; nele, o Papa se baseia nas reflexões do Sínodo, mas pode ir além delas, com sua reflexão pessoal, dando diretrizes e normas para a vida da Igreja em referência à questão tratada.

Participam das assembleias do Sínodo, geralmente, mais de 300 pessoas, sobretudo bispos, representando as Conferências Episcopais de todo o mundo e escolhidos por seus pares para representá-los. Mas um certo número de bispos participantes também são escolhidos pelo próprio Papa, conforme previsto no Regulamento do Sínodo. Além dos bispos, há outras pessoas convidadas, de acordo com o tema; há sempre vários teólogos, peritos no tema, e também convidados de Igrejas cristãs não católicas.

A assembleia do Sínodo é convocada e presidida pelo Papa; ele, no entanto, não coordena pessoalmente os trabalhos, mas confia essa tarefa a presidentes delegados, que serão quatro nesta 14ª Assembleia; entre eles, também estará o Cardeal de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis. Papel importante desempenham na assembleia o Relator do Sínodo e o Secretário Especial. O Papa está presente em quase todas as reuniões, que acontecem durante três semanas, pela manhã e à tarde. Mas ele ouve muito e fala pouco; geralmente, só fala brevemente na abertura e na conclusão. O Papa convoca o Sínodo, justamente, para ouvir a Igreja, por meio dos participantes da assembleia sinodal. Depois, ele fala por meio da Exortação Apostólica Pós-sinodal.

Durante as três semanas de assembleia, os participantes apresentam suas reflexões, em breves falas, que também entregam por escrito; todos fazem o exercício da escuta, que pode ser cansativa, mas é muito enriquecedora. Em seguida, há o momento de trabalhos em grupo, de acordo com as cinco línguas usadas na assembleia (italiano, inglês, francês, alemão e espanhol); os grupos têm a tarefa de recolher as reflexões mais destacadas e convergentes; e também de oferecer indicações para possíveis encaminhamentos práticos, a partir dos consensos que vão sendo formados. A missão do Sínodo, de fato, é a busca da comunhão e de caminhos comuns para a vida e a missão da Igreja.

O tema da 14ª assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos é, novamente, a família: “vocação e missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. A Igreja considera que a família merece um lugar destacado nas preocupações dela mesma, mas também dos governos e responsáveis pela vida dos povos. Resta agora acompanhar a assembleia do Sínodo e, depois, acolher as orientações que o Papa Francisco dará a toda a Igreja e à humanidade sobre esse tema.

Publicado no jornal O SÃO PAULO - Edição 3071 - 30 de setembro a 6 de outubro de 2015