Novo Diretório para a Catequese

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02/07/2020 - 12:00

Há vários anos, o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização vinha trabalhando na elaboração de um novo Diretório Geral para a Catequese. As diretrizes para a Catequese na Igreja em todo o mundo são dadas pelo Papa por meio desse Pontifício Conselho, cujo Presidente é o Arcebispo italiano Rino Fisichella, renomado professor de Teologia. No dia 25 de junho, o Diretório foi publicado e apresentado a toda a Igreja.

E chegou em boa hora! A Catequese é uma dimensão fundamental e permanente da ação evangelizadora da Igreja. Partindo de uma fé inicial, a Catequese é o auxílio oferecido aos fiéis para que, com a ajuda de Deus, se desenvolvam e cheguem a uma fé adulta, de maneira a produzir os frutos da vida cristã. É uma ação voltada para os cristãos de todas as idades, oferecendo-lhes o alimento cotidiano à sua vida cristã, para que se tornem capazes de corresponder à graça do Espírito Santo recebida no Batismo. A Catequese propicia o conhecimento e a sabedoria do Evangelho para os desafios da vida, em todas as circunstâncias. Por isso, ela é um processo que envolve o conhecimento e o amadurecimento da fé cristã (cf. São João Paulo II, Catechesi tradendae, 19).

O Concílio Vaticano II havia recomendado fortemente que os bispos zelassem, com todo o cuidado, pela Catequese das crianças, adolescentes, jovens e adultos em suas dioceses. Que velassem pelo conteúdo da Catequese, para ser fiel à doutrina da Igreja, formando os cristãos nos caminhos de Cristo e da própria Igreja. Recomendou, ainda, que os catequistas fossem cuidadosamente formados, para exercer bem sua importante missão de pedagogos da fé para os irmãos (Christus dominus, 13-14). Desde então, muito dessas recomendações do Concílio se perderam pelo caminho, apesar da existência do Diretório da Catequese, elaborado por São Paulo VI no início dos anos 1970, e da importante Exortação de São João Paulo II sobre a Catequese Renovada, nos anos 1980. E também nos anos 1980, o mesmo São João Paulo II entregou à Igreja o Catecismo da Igreja Católica, referência geral e preciosa para toda a Catequese na Igreja inteira. A partir dele, de fato, devem ser preparados todos os manuais e roteiros de Catequese. Muito disso foi esquecido, e há urgente necessidade de voltar nova atenção à Catequese na Igreja!

No conceito geral, a Catequese acabou identificada apenas com o processo mínimo de preparação aos Sacramentos da primeira Eucaristia, da Confissão e da Crisma. Embora importante, isso é extremamente redutivo! Talvez a procura de métodos renovados, necessária e bem justificada, levou a minimizar a atenção ao conteúdo e à integralidade da Catequese, como processo formativo permanente do cristão, para que alcance a maturidade de sua fé, o testemunho da vida cristã coerente com o Evangelho e a participação fecunda na vida e na missão da Igreja. É preciso perguntar seriamente se a Catequese não se tornou uma atividade apenas secundária em nossas paróquias e comunidades, recebendo pouca atenção e investimento de tempo e de recursos, em vista da boa preparação de agentes e meios para a Catequese nas diversas etapas e dimensões.

O novo Diretório para a Catequese, ora publicado, deverá ajudar a trazer novamente a Catequese para o centro das atenções das comunidades eclesiais. A constatação feita pela pesquisa do sínodo arquidiocesano (2018) deixa muito claro que há uma enorme carência de Catequese no povo católico e, ao mesmo tempo, uma busca sedenta de mais Catequese, de boa Catequese. A evangelização querigmática, ou primeira evangelização, é fundamental, mas não é suficiente. A iniciação à vida cristã é indispensável para introduzir o cristão nos mistérios da fé e na prática da vida cristã, mas não basta. É preciso avançar mais, passando do “leite espiritual” dos recém-nascidos para a fé ao alimento sólido e substancioso para quem enfrenta o duro combate cotidiano pela fé e o testemunho cristão. O cristão que não se aprofunda no conhecimento e no amor à sua fé está exposto a crescer pouco e até a perder a fé, por falta de firmeza e de percepção das implicações dela na sua vida diária.

O problema não é novo. Já no início do Cristianismo, o autor da Carta aos Hebreus constata que os cristãos necessitavam de maior progresso na vida cristã: “A julgar pelo tempo, já devíeis ser mestres! Contudo, de novo necessitais de que alguém vos ensine os primeiros rudimentos da Palavra de Deus. Tendes necessidade de leite, em vez de alimento sólido!” (Hb 5,12). Oxalá o novo Diretório da Catequese ajude a renovar o ânimo da Catequese, também em nossa Arquidiocese. O sínodo arquidiocesano deverá dar diretrizes orientadoras a esse respeito.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 01/07/2020