Então, tu és rei?

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20/11/2020 - 12:00

A festa litúrgica de Cristo Rei marca o final do ano litúrgico, durante o qual celebramos os grandes feitos da história de Deus com os homens. No início dessa história está a Trindade Santa, que a tudo deu origem, tudo governa e dá o ser e a vida mediante o Espírito Santo. No centro dessa história está o Mistério da encarnação do Filho de Deus, que veio ao mundo e se fez um de nós. Também nesse fato único estava envolvida a Trindade uma e santa. Tudo por causa do homem, por amor dele e do mundo todo.

E a solenidade de Cristo Rei convida a lançar um amplo olhar sobre a história, sobretudo para o seu grande final, o ponto de chegada do peregrinar do homem neste mundo. Na conclusão da história encontramos Jesus Cristo glorioso, juiz da história, senhor do universo. Nós, cristãos, entendemos que o caminho da história não está fechado sobre si mesmo, mas está orientado para um grande objetivo final: o encontro com Deus e com Jesus Cristo, Juiz e Senhor de todos, a quem deveremos dar contas de nossa vida. Ele nos recompensará pela nossa fidelidade ao Evangelho.

Pilatos interrogou Jesus, durante o seu julgamento, e quis saber se ele era rei mesmo. Jesus confirmou que sim, mas acrescentou que seu reino não é deste mundo. Pilatos, pelo jeito, não levou a sério, nem compreendeu que também ele próprio estava sob a jurisdição do reinado de Jesus Cristo. Pilatos estava demasiadamente preocupado com sua posição perante César, imperador Romano, a quem ele devia prestar contas. Sua pergunta era motivada pelo temor de que Jesus estivesse à frente de um movimento revolucionário, que ele, Pilatos, em nome de César, devia reprimir.

Pilatos não tinha fé e não se importou com a resposta de Jesus, que afirmou ser rei e que seus seguidores são todos aqueles que praticam a verdade. “Que é a verdade?”, perguntou Pilatos. Para ele, verdade eram as ordens de César, seu próprio status diante do imperador romano e suas vaidades diante do povo. No fundo, era ele quem determinava o que era a verdade e os cidadãos tinham de submeter a ele.

Na festa de Cristo, Rei do universo, somos todos convidados a nos confrontar com essas questões: qual é a verdade que escolhemos para seguir vida afora? Para onde se orienta a nossa vida: para o reino de César? Ou para o reino de Cristo e de Deus? Os reinos de César acabam em nada, mas o reino de Cristo leva à vida eterna. Sejamos todos, desde agora, cidadãos do reino de Deus para que nossa vida não acabe em frustração.

No Domingo de Cristo Rei, são realizadas as coletas das Campanhas da Fraternidade e da Evangelização em todas as igrejas católicas do Brasil. Com o que se recolhe, muitos trabalhos de evangelização e de caridade podem ser apoiados. Participemos também nós com nosso gesto concreto de apoio ao trabalho evangelizador e caritativo da Igreja.

Deus abençoe todos os leigos, no dia que lhes é dedicado. Eles são os mensageiros do reino de Deus nos espaços da família, do trabalho, das responsabilidades públicas e no mundo secular. Deus os abençoe e fortaleça em sua grande missão de discípulos e missionários do reino de Deus.

 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo