Dá-nos a bênção, ó Mãe querida!

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27/04/2016 - 09:00

A arquidiocese de São Paulo faz sua 115ª peregrinação anual ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida no primeiro domingo de maio, conforme tradição mantida longamente. Neste ano, a data coincide com o próprio dia 1º de maio, quando também lembramos o trabalhador São José, esposo de Maria.

Não é demais recordar que há uma explicação especial para a relação estreita da nossa Arquidiocese com Nossa Senhora Aparecida e o carinho que o povo paulistano tem por ela: desde 1745, quando a diocese de São Paulo foi criada, até 1958, a cidade de Aparecida, juntamente com o Santuário, pertenceram à diocese/arquidiocese de São Paulo, que também fez edificar a “Basílica velha” e deu encaminhamento à construção do novo e majestoso Santuário.

Quando, em 1958, foi erigida a arquidiocese de Aparecida, o arcebispo de São Paulo, cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, foi seu administrador diocesano até 1964. Naquele ano, o bem-aventurado papa Paulo VI nomeou o cardeal Mota como 1º arcebispo de Aparecida. A devoção a Nossa Senhora Aparecida, que está para completar 300 anos de história, continuou muito ligada ao povo e à arquidiocese de São Paulo.

Na peregrinação deste ano, a Arquidiocese recebe da Direção do Santuário a imagem peregrina de Aparecida, que passará por todas as paróquias, comunidades, colégios católicos e outras instituições da nossa Igreja ao longo dos próximos meses. Dessa forma, como também acontece na maioria das dioceses do Brasil, estaremos preparando a comemoração dos 300 anos do encontro da imagem sagrada de Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul.

A devoção a Nossa Senhora Aparecida está relacionada estreitamente com o rosto misericordioso de Deus e à prática das obras de misericórdia. A história do achado da imagem por humildes pescadores, o relato sobre o escravo socorrido e libertado de maneira prodigiosa quando, na sua angústia, invocou a Nossa Senhora diante da pequena imagem achada no rio, e o início humilde da devoção à Virgem da Conceição Aparecida podem bem ser relacionados com a invocação da Igreja na oração: “Salve Rainha, Mãe de misericórdia!... A vós bradamos... a vós suspiramos, gemendo e chorando! Eia, pois, advogada nossa! Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”.

E também as multidões, que ainda peregrinam cada ano aos milhões para o Santuário da Mãe Aparecida, refletem essa mesma imagem do povo sofrido e humilde, que recorre à Mãe de misericórdia para lhe falar de suas angústias e sofrimentos, ou contar suas alegrias e esperanças. Muitos vão para agradecer graças alcançadas, com o coração transbordando de devotamento e ternura. A mãe de Jesus, a Senhora da Conceição Aparecida, continua a ser esse “grande sinal”, colocado por Deus no céu e na terra para consolo dos seus filhos nas suas angústias e para a certeza de que “o dragão” não terá a última palavra sobre a vida dos homens e sua história (cf Ap 12).

A “Mãe de misericórdia” está sempre junto de seu Filho, nosso misericordioso Salvador, “rosto do Pai misericordioso” (“misericordiae vultus”). Também na glória, ela continua a interceder pelos seus filhos, os irmãos de Jesus, como fez nas bodas da Caná, quando percebeu que a alegria da festa poderia acabar: “eles não têm mais vinho” (Jo 2). Ela está a serviço da vontade misericordiosa de Deus, que quer a vida de seu povo e a salvação de todos os “degredados filhos de Eva”.

Nossa Senhora Aparecida é a “Mãe querida”, à qual os filhos recorrem com ternura e fé para pedir a bênção para si e para os seus. Muitas vezes, cheios de problemas, nem sabem como rezar, vão diante dela só para lhe mostrar seu olhar, na certeza de que a atenção da mãe conforta e ilumina o caminho escuro da vida... A mãe é sempre a confidente segura nas horas de angústia extrema e não é necessário dizer muitas palavras a ela, pois entende o coração dos filhos pelo simples olhar deles...

A arquidiocese de São Paulo vai mais uma vez em peregrinação à casa da Mãe de Misericórdia, em Aparecida, para pedir: “dá-nos a bênção, ó Mãe querida”! Em suas mãos, depositamos os votos e homenagens de todos os seus filhos, que vivem nesta Metrópole imensa. A ela confiamos os sofrimentos de tantos e a generosa solidariedade de outros tantos, que os assistem com suas obras de misericórdia.

A ela nos dirigimos, convidando: vem, Senhora de Aparecida, nos visitar! Vem às nossas paróquias, entra em nossas casas e traze o consolo da misericórdia do Pai, do Filho e do Espírito Santo, “ó clemente, o pia, ó doce sempre virgem Maria, Senhora Aparecida!”

Publicado no jornal O SÃO PAULO - Edição 3099 - 27 de abril a 3 de maio de 2016