Comunicação a serviço da verdade

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09/05/2018 - 09:45

Na solenidade da Ascensão de Jesus ao céu, a Igreja lembra o Seu mandato missionário aos apóstolos e à Igreja: “ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Jesus enviou os apóstolos em missão para darem testemunho dele “até os confins da terra” (At 1,8). Com a força do Espírito Santo, eles partiram em todas as direções e, até hoje, a Igreja não cessou mais de anunciar o Evangelho a todas as nações e entre todos os povos. A continuidade da mesma missão cabe também a nós na cidade de São Paulo. Conforme nos recorda o sínodo arquidiocesano, somos testemunhas de Deus nesta cidade. 

Para o desempenho da missão, temos à nossa disposição uma imensidade de meios, que os apóstolos não possuíam. Não havia livros impressos, imprensa escrita, correio veloz, nem viagens rápidas... São Paulo fez tanto com tão poucos e rudimentares recursos de comunicação que ele tinha ao seu dispor. Fico imaginando qual não teria sido o seu desempenho se ele tivesse contado com os poderosos, eficientes e diversificados meios modernos de comunicação social, que temos hoje: rádio, televisão, internet e a imprensa escrita... Se ele não teve esses recursos, nós os temos! 

Na missão de evangelizar, é nosso dever anunciar o Evangelho através de todos os meios que estão ao nosso alcance. Paulo VI escreveu, certa vez, que seremos responsabilizados diante de Deus, se não o fizermos... No entanto, esses mesmos poderosos recursos podem ser empregados para comunicar “boas novas” e promover toda forma de bem; e podem, infelizmente, ser usados também para difundir toda sorte de mal, desinformar, agredir pessoas, desintegrar o convívio social e destruir a paz. 

Na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, comemorado pela Igreja no Domingo da Ascensão, o Papa Francisco convoca os jornalistas e todos nós a colocarmos a comunicação a serviço da verdade e da paz. Somente a verdade liberta e promove a justiça e a paz. Francisco trata, especialmente, do fenômeno das fake news , ou notícias falsas, ou ainda, desinformação intencional. Não se trata de simples “mentirinhas inocentes”, mas de falsidades produzidas e veiculadas para prejudicar pessoas ou instituições, ou para conseguir vários tipos de vantagens desonestas e injustas. As fake news podem causar graves danos, prejudicar a boa convivência e a paz social. 

Sempre existiram fake news , desde que a “serpente” enganou Adão e Eva no paraíso terrestre. A grande mentira e o “fruto proibido”, que pareceu tão agradável a nossos primeiros pais, consistiram na afirmação falsa que eles “seriam como Deus”; em outras palavras, que não precisariam de Deus e poderiam tomar o lugar de Deus (cf. Gn 3, 5-7). Aquela “agradável” falsidade, aceita por Adão e Eva, deixou consequências danosas que duram até hoje. O problema está justamente no veneno que a falsidade e a mentira trazem na sua origem: vêm do demônio e levam para ele. O demônio é o pai da mentira. Pelo contrário, a verdade é de Deus e leva para Deus.

Na lista das fakes estão a mentira, a calúnia, a injúria, o falso testemunho, a dissimulação e a manipulação da verdade. Quem promove intencionalmente a difusão de falsidades assume uma enorme responsabilidade moral diante de Deus e dos homens. E o Papa recorda que também aqueles que colaboram com a difusão de falsidades e mentiras participam da mesma responsabilidade moral. Por isso, devemos ser discípulos e amigos da verdade sempre e em todas as circunstâncias. No dizer de Francisco, é preciso desmascarar a “lógica da serpente”, como fez Jesus, quando foi tentado no deserto.

Informar é formar e lidar com a vida das pessoas. Merece nossa atenção especial o uso responsável das mídias sociais, pelas quais podemos tornar-nos corresponsáveis pela difusão de fake news com o simples toque inconsequente de uma tecla... Vai daí também a importância da educação para o bom uso dessas maravilhas da técnica colocadas ao nosso dispor. As mídias sociais devem servir à comunicação da verdade para o diálogo, o respeito, a justiça, a fraternidade e a paz. 

No mesmo Domingo da Ascensão, a arquidiocese de São Paulo valoriza um dos seus Meios de Comunicação: a Rádio 9 de Julho , voz da Igreja Católica no meio das muitas vozes que anunciam, informam e formam a opinião pública em nossa Metrópole. Em todas as celebrações desse Domingo, faz-se a coleta em favor da Rádio 9 de Julho , como um gesto de apoio concreto para que ela continue a ser um meio eficaz de evangelização da nossa Igreja. A colaboração através desse gesto concreto e a valorização da programação da Rádio ajudarão a Igreja em São Paulo a ser “testemunha de Deus nesta cidade”. Testemunha da verdade para a justiça, a fraternidade e a paz.
 

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 09/05/2018