Bendigamos o Pai, o Filho e o Espírito Santo!

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25/05/2016 - 09:00

A Santíssima Trindade é o mistério central de nossa fé, pois trata-se da realidade do próprio Deus em quem nós cremos. Não fomos nós que achamos que Deus é desse jeito; nem foi a reflexão da inteligência humana que descobriu que Deus é assim: foi o próprio que se manifestou assim, especialmente através de Jesus Cristo, nosso Salvador.

A filosofia tem dificuldades com essa concepção cristã de Deus, pois a razão humana não conseguiria explicar sozinha, de maneira convincente, como Deus pode ser uno e trino, ao mesmo tempo. O monoteísmo absoluto, como no islamismo, não consegue dar as voltas na igualdade das três pessoas divinas e conclui que os cristãos acreditam em três deuses.

O politeísmo admite a existência de muitos deuses, com habilidades e dignidades diversas; por isso, aceitaria facilmente a existência de três deuses iguais, ou desiguais, em natureza e dignidade. Mas não é essa a fé dos cristãos, que são monoteístas e não acreditam em três deuses: Deus, para ser Deus mesmo, não pode haver mais que um só. Nem é preciso falar dos ateus, que negam a existência de um ou de vários deuses. Como foi que a fé cristã chegou à afirmação da fé em um só Deus em três pessoas divinas?

No início do cristianismo, as controvérsias teológicas e doutrinais em torno da questão de Deus levaram séculos para serem esclarecidas e para isso foram necessários vários concílios ecumênicos, com muita teologia e também lágrimas. Depois dos apóstolos, os grandes pregadores, “Pais da Igreja”, tiveram que enfrentar esta questão: ou levar a sério o Evangelho de Cristo e a pregação dos apóstolos, ou fazer de conta que tudo continuava como antes de Cristo em matéria de conhecimento de Deus. Eles escolheram ficar com o ensinamento de Jesus e a pregação dos apóstolos.

No Evangelho, Jesus apresenta-se como “Filho” em relação a Deus; e fala do Espírito Santo como “dom do Pai e do Filho”; dom em forma de pessoa, da mesma natureza do Pai e do Filho, sem ser um, nem outro? Como explicar que Jesus Cristo é o “Filho de Deus”? Como entender a sua relação com Deus Pai? E com a humanidade? Como não reduzir Jesus, filho de Maria, a uma mera aparência humana? Como não reduzir o Filho de Deus a uma criatura do eterno Pai? Como entender o Espírito Santo, sem reduzi-lo a uma criatura de Deus, nem à “alma” de Jesus Cristo? Como explicar que Deus é um só e não são se trata de três divindades diversas? Como entender que cada um é distinto do outro, sem ser separado; que tem a mesma natureza divina, mas não a mesma ação divina?

As questões não eram de pouca relevância, nem simples de resolver. Antes de tudo, partiu-se da afirmação de fé: Deus é assim, manifestou-se assim mesmo. Quem somos nós para prescrever a Deus como pode manifestar-se? Ser ou não ser? Deus é maior que nós e não fomos nós que o inventamos: isso seria a pura idolatria. Nossa inteligência é a das criaturas e não pode ter a pretensão de abraçar por inteiro a inteligência do Criador. Os Padres da Igreja partiram do ato de fé e do acolhimento humilde do Deus que se manifestou e se revelou aos homens, tentando explicar o que podiam explicar. E isso está resumido no Creio e explicado no Catecismo da Igreja.

A inteligência humana consegue falar muito sobre Deus; mas a totalidade do mistério de Deus permanece além da capacidade de nossa inteligência criada; não é inacessível, mas permanece como realidade luminosa e fascinante, como fonte inesgotável, que as almas sedentas e sinceras buscam com avidez, alcançam pela contemplação e expressam pela arte, mais que pelas palavras.

Por isso, afirmamos que a Trindade Santa é mistério sublime, sem limites, que nunca será compreendida plenamente com nossa capacidade limitada de conhecimento e expressão; é mistério inefável, que não conseguimos dizer com palavras; é mistério santo e adorável, diante do qual se inclina a cabeça e dobra-se o joelho, em humilde adoração; é mistério de amor, que nos envolve de misericórdia, graça e salvação, à qual nos entregamos sem medo de nos perder, pois nela temos vida em plenitude. Ao Deus único, trino na unidade e uno na Trindade, sejam dadas glórias, louvor, adoração, agora e para sempre!

Publicado no jornal O SÃO PAULO - Edição 3103 - 25 a 31 de maio de 2016. 

Dom Odilo Pedro Scherer