A Metrópole sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida

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Arquidiocese de São Paulo é parte da história da construção do Santuário Nacional à Padroeira do Brasil, que tem devotos em toda a Cidade
Publicado em: 04/05/2016 - 15:15
Créditos: Jornal O São Paulo

     
Nas águas do rio Paraíba do Sul, em outubro de 1717,os pescadores Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves, ao saírem para pescar, encontram uma imagem de Nossa Senhora, primeiro o corpo, depois a cabeça. Após o feito, ao lançarem as redes, milagrosamente recolheram centenas de peixes como nunca haviam pescado antes.

Passados quase 300 anos, milhares de devotos em todo o Brasil recorrem à intercessão da Imaculada Conceição Aparecida, entre esses também os que vivem em São Paulo. A propósito, há uma estreita relação da Arquidiocese de São Paulo com Nossa Senhora Aparecida: até 1958, a igreja na cidade de Aparecida, juntamente com o santuário nacional, pertenciam à Arquidiocese de São Paulo, que participou ativamente da construção da “Basílica velha” e deu encaminhamento à construção do novo Santuário, em 1955.

Em artigo publicado no O SÃO PAULO em 27 de abril deste ano, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, recordou essa relação. “Quando, em 1958, foi erigida a Arquidiocese de Aparecida, o arcebispo de São Paulo, Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, foi seu administrador diocesano até 1964”.

No mesmo ano, o Papa Paulo VI nomeou o Cardeal Mota como o primeiro arcebispo de Aparecida.

Devoção mariana no Congresso Eucarístico Nacional de 1942

Realizado enquanto transcorria a Segunda Guerra Mundial, o IV Congresso Eucarístico Nacional aconteceu em São Paulo, com a participação de mais 500 mil pessoas. Nessa época, o Arcebispo de São Paulo era Dom José Gaspar d´Afonseca e Silva, que trabalhou incessantemente pelo bom sucesso da atividade e elegeu Nossa Senhora Aparecida como a primeira peregrina daquele Congresso.

Uma réplica da imagem de Nossa Senhora veio de Aparecida e foi triunfalmente recebida na praça da Sé. A mesma imagem acompanhou todas as celebrações do Congresso Eucarístico Nacional, entre 4 e 7 de setembro de 1942.

Após o término do Congresso, a imagem foi levada em procissão até a várzea do Ipiranga em 13 de setembro daquele ano, quando o Arcebispo abençoou a pedra fundamental do futuro templo dedicado a Nossa Senhora, hoje a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, localizada na rua Labatut, no bairro do Ipiranga.

‘Salve a Mãe de Deus e nossa’

Como em todas as partes do País, na Arquidiocese de São Paulo a devoção a Nossa Senhora Aparecida é uma marca dos católicos, em especial nas 28 paróquias e comunidades dedicadas à Padroeira
do Brasil. Uma dessas paróquias fica no bairro do Lauzane Paulista, na zona Norte.

“A comemoração da solenidade da Mãe Aparecida em nossa comunidade é feita com muita devoção, oração, entrega e, o mais importante, com muito amor”, comentou, à reportagem, o Padre Wilson Pereira dos Santos, 36, pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e São Matias, na Região Santana. Segundo o Presbítero, em outubro, na festa da Padroeira, há o envolvimento de toda a comunidade paroquial.

“Transformamos a vida em oração, no gesto concreto de esvaziar-nos das nossas verdades para assumir verdadeiramente essa devoção avassaladora que renova, fazendo com que a única coisa que realmente importe neste momento seja o amor e a gratidão de se sentir amado por Deus, por meio de Maria, em todos os dias do ano”, detalhou Padre Wilson.

Projeto Tietê Esperança Aparecida

Já virou tradição na Arquidiocese de São Paulo: todo dia 12 de outubro, desde 2004, por meio do projeto “Tietê Esperança Aparecida”, acontece a peregrinação fluvial da imagem da Padroeira do Brasil pelas águas poluídas do rio Tietê na Grande São Paulo.

A iniciativa da peregrinação fluvial foi do Padre Palmiro Carlos Paes, atual administrador da Paróquia Santa Cristina, na Região Ipiranga. Em 2004, motivado pela CF “Fraternidade e Água”, a iniciativa teve início para expressar a devoção a Nossa Senhora e conscientizar a população e as autoridades sobre a importância da despoluição do rio.

Todos os anos, a imagem peregrina é acolhida por milhares de devotos na ponte do Piqueri, na zona Oeste de São Paulo, e depois, em carreata, é levada à Catedral da Sé, onde é presidida a missa solene.

Nossa Senhora inspira sacerdócio

Padre José Enes de Jesus, 63, pároco da Paróquia Santo Eduardo, na Região Sé, é assistente eclesiástico da Pastoral Afro na Arquidiocese de São Paulo. Ele contou à reportagem a experiência de fé e devoção a Nossa Senhora Aparecida herdada na família. A história foi objeto de estudo e resultou em uma tese de doutorado de Lourival dos Santos, Doutor em história pela USP, com o título “História oral de devotos negros da Padroeira do Brasilprojeto familiar e estratégia de pertencimento à Comunidade Nacional”.

A família Jesus migrou de Nacip Raydan, na região de Governador Valadares, em Minas Gerais, para a periferia da zona Leste de São Paulo, entre 1951 e 1996. “Minha família sempre foi muito devota de Nossa Senhora Aparecida. Desde pequeno, eu e meus irmãos cultuamos essa fé. Sempre que íamos a São Paulo, no dia seguinte, sempre visitávamos a Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Era o nosso compromisso. Essa devoção primária foi muito importante na minha formação”, recordou o Padre.

Ao ingressar no seminário, o Presbítero deu continuidade à devoção mariana participando das romarias da Arquidiocese. “Nossa Senhora Aparecida é a padroeira da família. Em tudo aquilo que nós necessitamos, recorremos a ela, seja pelo emprego, motivos de doença, mas também nos momentos de alegria para agradecer as graças e bênçãos recebidas. Nossa Senhora Aparecida sempre socorre as famílias”.

Para o Padre José Enes, o fato de Nossa Senhora ter sido encontrada no Brasil no período da escravidão fez com que muitos negros se identificassem com a Padroeira. “Isso ajudou nossos irmãos
negros e negras a encontrarem forças na Mãe Aparecida, assim como a identificação da cor de sua pele com a cor da imagem da Mãe”. 

 

Texto: Renata Moraes